Um silêncio pesado tomou conta da sala do decano, e Galloway sentiu que seus dois
convidados ainda não faziam a menor idéia de como a pirâmide poderia ajudá-los a revelar o que quer que fosse. Foi por isso que o destino os trouxe até mim, pensou ele. Eu tenho um papel a desempenhar.
Durante muitos anos, o reverendo Colin Galloway e seus irmãos maçons haviam exercido o papel de guardiões. Agora tudo estava mudando.
Eu não sou mais um guardião... sou um guia.
— Professor Langdon? — disse Galloway, estendendo a mão por cima da escrivaninha. — Segure a minha mão, por favor.
Robert Langdon ficou inseguro ao olhar para a palma estendida do decano Galloway à sua frente.
Será que nós vamos rezar?
Com educação, Langdon esticou o braço e pôs a mão direita sobre a mão encarquilhada do decano. O velho a segurou com força, mas não começou a rezar. Em vez disso, encontrou o indicador de Langdon e o guiou para baixo até a caixa de pedra que antes protegia o cume da pirâmide.
— Seus olhos o deixaram cego — falou o decano. — Se o senhor visse com as pontas dos dedos, como eu, perceberia que esta caixa ainda tem algo a lhe ensinar.
Obediente, Langdon correu a ponta do dedo pelo interior da caixa, mas não sentiu nada. O lado de dentro parecia perfeitamente liso.
— Continue procurando — incentivou Galloway.
Por fim, Langdon sentiu alguma coisa — um minúsculo círculo em relevo, um pontinho no centro da base. Ele retirou a mão e olhou para dentro da caixa. O pequeno círculo era praticamente invisível a olho nu. O que será isso?
— Está reconhecendo esse símbolo? — perguntou Galloway.
— Símbolo? — retrucou Langdon. — Não dá para enxergar nada.
— Aperte-o.
Langdon obedeceu e apertou o pontinho. O que ele acha que vai acontecer?
— Pressione-o com o dedo — orientou o decano.
Langdon olhou de relance para Katherine, que exibia um ar intrigado enquanto ajeitava uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Poucos segundos depois, o velho decano assentiu com a cabeça.
— Está bom, tire a mão da caixa. A alquimia está completa.
Alquimia? Robert Langdon recolheu a mão e ficou sentado em silêncio. Não havia acontecido absolutamente nada. A caixa simplesmente continuava ali em cima da escrivaninha.
— Nada — disse Langdon.
— Olhe para a ponta do seu dedo — retrucou o decano. — O senhor deveria ver uma transformação.
Langdon olhou para o dedo, mas a única transformação que pôde ver foi que passara a exibir na pele uma pequena marca feita pelo relevo esférico — um círculo diminuto com um pontinho no meio.
— Agora está reconhecendo o símbolo? — perguntou o decano.
Embora Langdon o reconhecesse, estava mais impressionado pelo fato de o decano ter conseguido identificá-lo. Ver com a ponta dos dedos era aparentemente uma habilidade adquirida.
— Ele vem da alquimia — disse Katherine, deslizando a cadeira mais para perto e examinando o dedo de Langdon. — É o antigo símbolo do ouro.
— De fato. — O decano sorriu, dando um tapinha na caixa. — Parabéns, professor. O senhor acaba de conseguir o que todos os alquimistas da história lutaram para obter. A partir de uma substância sem valor, o senhor criou ouro.
Langdon franziu o cenho, nem um pouco impressionado. Aquele pequeno truque de salão não parecia ajudar em nada.
— É uma idéia interessante, senhor, mas infelizmente esse círculo com um pontinho no meio, chamado circumponto, tem dezenas de significados. Ele é um dos símbolos mais usados da história.
— Do que o senhor está falando? — indagou o decano com ceticismo.