Abrigo e respostas, pensou Langdon, acomodando-se na cadeira confortável.
O homem idoso arrastou os pés até atrás da escrivaninha e sentou devagar na cadeira de espaldar alto. Então, com um suspiro cansado, levantou a cabeça, as órbitas enevoadas olhando o vazio. Quando ele falou, sua voz soou surpreendentemente clara e forte.
— Sei que é a primeira vez que nos encontramos — disse o velho —, mas sinto como se já nos conhecêssemos. — Ele sacou um lenço e enxugou a boca. — Professor Langdon, estou bastante familiarizado com seus escritos, incluindo o texto brilhante que assinou sobre o simbolismo desta catedral. Sra. Solomon, seu irmão Peter e eu somos irmãos maçons há muitos anos.
— Peter está correndo sério perigo — disse Katherine.
— Foi o que me disseram. — O velho deu um suspiro. — E eu farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudá-los.
Langdon não viu nenhum anel maçônico na mão do decano, porém sabia que muitos maçons, sobretudo os que faziam parte do clero, optavam por não alardear sua filiação à irmandade.
Quando começaram a conversar, ficou claro que o decano Galloway já estava ciente de parte dos acontecimentos da noite graças ao recado telefônico de Warren Bellamy. Conforme Langdon e Katherine foram lhe contando o resto, ele pareceu ficar cada vez mais preocupado.
— E esse homem que levou nosso querido Peter — falou o decano — está insistindo que os senhores decifrem a pirâmide em troca da vida dele?
— Isso — respondeu Langdon. — Ele acha que a pirâmide é um mapa capaz de conduzi-lo ao esconderijo dos Antigos Mistérios.
O decano cravou os olhos sinistros e opacos em Langdon.
— Meus ouvidos estão me dizendo que o senhor não acredita nessas coisas.
Langdon não queria perder tempo enveredando por esse caminho.
As minhas crenças não têm qualquer importância. O que precisamos fazer é ajudar Peter. Infelizmente, quando deciframos a pirâmide, ela não apontou para lugar nenhum.
O velho se endireitou na cadeira.
— Vocês decifraram a pirâmide?
Katherine interveio, explicando rapidamente que, apesar dos alertas de Bellamy e do pedido de seu irmão para que o embrulho não fosse violado, ela resolvera abri-lo, por achar que sua prioridade era ajudar Peter. Contou ao decano sobre o cume de ouro, sobre o quadrado mágico de Albrecht Dürer e
sobre como este decodificava a cifra maçônica de 16 letras transformando-a na expressão Jeova Sanctus Unus.
— É só isso que diz a inscrição? — perguntou o decano. — Único Deus Verdadeiro?
— Sim, senhor — respondeu Langdon. — A pirâmide parece mais um mapa metafórico do que um mapa geográfico.
O decano estendeu as mãos.
— Deixe-me tateá-la.
Langdon abriu o zíper da bolsa e retirou a pirâmide, erguendo-a cuidadosamente e posicionando-a em cima da mesa, bem em frente ao reverendo.
Langdon e Katherine ficaram olhando as frágeis mãos do homem examinarem cada centímetro da pedra — o lado gravado, a base lisa e o topo decepado. Depois de terminar, ele tornou a estender as mãos.
— E o cume?
Langdon pegou a caixinha de pedra, colocou-a sobre a mesa e abriu a tampa. Então retirou o cume e o depositou nas mãos esticadas do velho. O decano efetuou um exame parecido, tateando cada centímetro e se detendo na inscrição, aparentemente com alguma dificuldade para ler o pequeno texto gravado de forma elegante.
— “O segredo se esconde dentro da Ordem” — ajudou Langdon. — E a palavra ordem está em maiúscula.
O rosto do velho não exibiu nenhuma expressão enquanto ele posicionava o cume em cima da pirâmide e o alinhava com o auxílio do tato. Pareceu se deter por um instante, como se orasse, e correu as mãos várias vezes por toda a pirâmide com reverência. Em seguida estendeu a mão e apanhou a caixa em formato de cubo, examinando cuidadosamente tanto a parte interna quanto a externa.