Andros arrancou o gorro de esqui ensopado e o guardou no bolso, olhando rio acima em busca de Peter Solomon. A curva do rio atrapalhava sua visão. Seu peito recomeçou a arder. Sem fazer barulho, ele arrastou um pequeno galho e tapou o buraco no gelo. Quando o dia amanhecesse, a abertura já teria congelado novamente.
Enquanto Andros cambaleava para dentro do mato, começou a nevar. Ele não fazia idéia da distância que havia corrido quando emergiu do meio do bosque para o acostamento inclinado de uma pequena rodovia. Estava com hipotermia, e sua mente delirava. Havia começado a nevar mais forte e um solitário par de faróis surgiu ao longe. Andros acenou desesperado, e a caminhonete encostou na mesma hora. Tinha placa de Vermont. Um velho de camisa quadriculada vermelha saltou lá de dentro.
Andros cambaleou na sua direção, segurando o peito que sangrava.
- Um caçador... me deu um tiro! Preciso... de um hospital!
Sem hesitar, o velho ajudou Andros a se acomodar no banco do carona da caminhonete e aumentou a calefação.
- Onde fica o hospital mais próximo?
Andros nem desconfiava, mas apontou para o sul.
- Na próxima saída - improvisou. - Nós não vamos para hospital nenhum.
No dia seguinte, a polícia foi informada sobre o sumiço do velho de Vermont, mas ninguém sequer imaginava em que parte do trajeto ele poderia ter desaparecido em meio à ofuscante tempestade de neve. Tampouco relacionaram seu desaparecimento à outra notícia que dominou as manchetes do dia seguinte: O chocante assassinato de Isabel Solomon.
Quando Andros acordou, estava num quarto desenxabido de um hotel barato de beira de estrada que ficava fechado durante o inverno. Lembrava-se de tê-lo arrombado e de ter amarrado os ferimentos com lençóis rasgados. Depois afundara em uma cama frágil, debaixo de uma pilha de cobertores bolorentos, e simplesmente apagara. Agora estava faminto.
Foi mancando até o banheiro e viu a pilha de balas de chumbinho ensangüentadas dentro da pia. Recordava-se vagamente de tê-las extraído do peito. Erguendo os olhos para o espelho sujo, desfez com relutância as ataduras que lhe envolviam o corpo para avaliar os estragos. A musculatura sólida de seu peito e de seu abdômen havia impedido o chumbinho de penetrar fundo demais, mas, mesmo assim, seu corpo outrora perfeito estava arruinado pelos ferimentos. A única bala disparada por Peter Solomon aparentemente atravessara seu ombro de fora a fora, deixando uma cratera coberta de sangue.
Para piorar as coisas, Andros não havia conseguido obter o objeto que viera de tão longe para buscar. A pirâmide. Sua barriga roncava e ele saiu mancando do quarto até a caminhonete do velho, torcendo para encontrar alguma comida. O veículo já estava todo coberto de neve, e Andros se perguntou quanto tempo passara dormindo naquele velho hotel. Graças a Deus eu acordei. Não achou nada para comer na cabine, mas encontrou alguns analgésicos para artrite no porta-luvas. Tomou um punhado de comprimidos, engolindo-os com a ajuda de vários punhados de neve.