- Foi um simples erro - respondeu Langdon. - Uma tradução equivocada de São Jerônimo por volta de 400 d.C.
Bellamy pareceu impressionado.
- Exato. Uma tradução equivocada. E o resultado disso... é que o pobre Moisés agora está desfigurado para sempre.
"Desfigurado" era bondade dele. Quando criança, Langdon ficara aterrorizado ao ver o diabólico "Moisés chifrudo" de Michelangelo - peça central da Basílica de São Pedro Acorrentado, em Roma.
- Estou mencionando o Moisés chifrudo - disse Bellamy - para ilustrar como uma única palavra, quando mal compreendida, é capaz de reescrever a história.
O senhor está querendo ensinar o pai-nosso ao vigário, pensou Langdon, que havia aprendido essa lição na própria pele em Paris alguns anos antes. SanGreal: Santo Graal. SangReal: Sangue Real.
- No caso da Pirâmide Maçônica prosseguiu Bellamy -, as pessoas ouviram boatos sobre uma "legenda". E a idéia pegou. A história legendária da Pirâmide Maçônica soava como um mito. Mas a palavra legenda não se referia a uma lenda, e sim a outra coisa. Houve um erro de interpretação. De forma muito parecida com a palavra talismã. - Ele sorriu. - A linguagem pode ser muito boa para esconder a verdade.
- O senhor tem razão, mas não estou entendendo aonde quer chegar.
- Robert, a Pirâmide Maçônica é um mapa. E, como todo mapa, ela tem uma legenda: uma chave que ensina como deve ser lida. - Bellamy pegou o embrulho em forma de cubo e o levantou. - Não está vendo? O cume é a legenda da pirâmide. Ele é a chave que ensina a ler o artefato mais poderoso da Terra, um mapa que revela onde está escondido o maior tesouro da humanidade: o saber perdido de todas as épocas.
Langdon se calou.
- Eu sugiro humildemente - disse Bellamy - que sua gigantesca Pirâmide Maçônica não passa disto aqui... uma modesta pedra cujo cume de ouro se ergue alto o bastante para ser tocado por Deus. Alto o bastante para um homem esclarecido poder estender a mão e tocá-lo.
O silêncio pairou entre os dois homens por vários segundos.
Então, Langdon sentiu um arroubo inesperado de entusiasmo ao fitar novamente a pirâmide, vendo-a com novos olhos. Tornou a olhar para a cifra maçônica.
- Mas este código... parece tão...
- Simples?
Langdon assentiu.
- Praticamente qualquer um poderia decifrá-lo.
Bellamy sorriu e pegou lápis e papel para Langdon.
- Então talvez você possa nos esclarecer a questão.
Langdon não se sentia à vontade lendo aquele código, mas, levando em conta as circunstâncias, aquilo lhe parecia uma traição menor à confiança de Peter. Além do mais, independentemente do que dissesse aquela inscrição, ele não podia imaginar que fosse de fato revelar o esconderijo secreto de qualquer coisa... quanto mais de um dos maiores tesouros da história.