Em seguida, continuou o seu caminho até chegar ás portas d'outra cidade. A sentinella, que estava no seu posto, perguntou-lhe egualmente em que é que elle podia tornar-se util e o que é que sabia.{104}
—Sei tudo...
—Por conseguinte, só tu nos podes prestar um grande serviço em nos dizer qual o motivo porque a arvore da praça, que antigamente nos dava maçãs d'ouro, hoje nem sequer folhas apresenta.
—Quando voltar darei explicação—respondeu.
E lá foi andando, andando até que chegou a um largo rio que precisava atravessar. O barqueiro, que estava proximo, perguntou-lhe tambem em que é que elle lhe poderia ser prestavel e o que é que sabia.
—Sei tudo!—retorquiu o viajeiro nosso conhecido.
—Pois tu é que estás nas melhores condições para me dizer qual a causa porque é que ando a remar n'este barquinho de um lado para o outro sem que possa livrar-me d'este encargo.
—Dir-t'o-hei á volta—respondeu.{105}
Assim que se viu na margem opposta, reparou logo na bocca do inferno. Estava escuro, e chegava-lhe ao nariz o cheiro da fuligem. O diabo não estava em casa. Só lá estava a mãe, sentada n'uma larga poltrona que perguntou ao arrojado mocinho:
—Que queres tu d'aqui?—e olhava-o com certo ar de sympathia.
—Queria possuir tres cabellos d'ouro da cabeça do diabo, pois que se não os consigo, fico sem a minha noiva.
—É querer muito—retorquiu a velha—porque se o diabo entra e te vê aqui, não ganhas para o susto; mas tenho pena de ti e por isso te auxilío.
Quando acabou de falar, transformou-o n'uma formiga e aconselhou-o:
—Mette-te n'uma das prégas da saia, pois estás seguro do perigo.{106}