A Diretoria de Ciência e Tecnologia da CIA — “os Magos de Langley”, como eram conhecidos na comunidade de inteligência — havia trabalhado exaustivamente com os perfluorocarbonos oxigenados de modo a desenvolver tecnologias para as forças armadas norte-americanas. Os mergulhadores de elite da marinha descobriram que respirar oxigênio líquido no lugar das misturas gasosas habituais — como o heliox e o trimix — lhes permitia mergulhar muito mais fundo sem risco de sentir o mal-estar causado pela pressão. Da mesma forma, a NASA e a aeronáutica haviam descoberto que pilotos equipados com um aparato de respiração líquida, em vez do tradicional cilindro de oxigênio, podiam suportar forças G muito acima do normal, porque o líquido espalhava a força da gravidade pelos órgãos internos de maneira mais uniforme do que o gás.
Sato ouvira dizer que hoje em dia existiam “laboratórios de experiências extremas” nos quais era possível testar esses tanques de Ventilação Líquida Total — ou “Máquinas de Meditação”, como eram chamados. Aquele tanque ali provavelmente havia sido instalado para as experiências particulares de seu dono, embora o acréscimo de trincos pesados fizesse Sato ter quase certeza de que aquele tanque também fora usado para propósitos mais obscuros... uma técnica de interrogatório que a CIA conhecia bem.
A infame técnica de interrogatório conhecida como water boarding é altamente eficaz porque a vítima acredita mesmo estar se afogando. Sato sabia de várias operações confidenciais em que tanques de privação sensorial como aquele haviam sido usados para levar essa ilusão a níveis aterrorizantes. Uma vítima submersa em líquido respirável podia ser literalmente “afogada”. O pânico associado à experiência do afogamento em si fazia com que a vítima, em geral, nem percebesse que o
líquido que estava respirando era mais viscoso do que a água. Quando ele entrava em seus pulmões, a pessoa em geral desmaiava de medo, acordando em seguida no mais perfeito “confinamento solitário”.
Anestésicos tópicos e drogas de efeito paralisante e alucinógeno eram misturados ao líquido oxigenado para dar ao prisioneiro a sensação de que ele estava totalmente separado do próprio corpo. Quando sua mente enviava comandos para mover pernas e braços, nada acontecia. O estado de “morte” por si só já era apavorante, mas a verdadeira desorientação vinha do processo de “renascimento”, que, com o auxílio de luzes intensas, ar frio e barulho ensurdecedor, podia ser extremamente traumático e doloroso. Após um punhado de “renascimentos” e afogamentos subseqüentes, o prisioneiro ficava tão desorientado que não fazia mais idéia se estava vivo ou morto... e contava absolutamente qualquer coisa a quem estivesse conduzindo o interrogatório.
Sato ficou na dúvida se deveria esperar a chegada de uma equipe médica para retirar Langdon do tanque, mas sabia que não tinha tempo para isso. Preciso descobrir o que ele sabe.
— Apaguem as luzes — disse ela. — E arrumem uns cobertores.
O sol ofuscante havia desaparecido.
O rosto também sumira.
A escuridão estava de volta, mas Langdon agora podia ouvir sussurros distantes ecoando pelos anos-luz de vazio. Vozes abafadas... palavras ininteligíveis. Em seguida começaram as vibrações... como se o mundo estivesse prestes a se despedaçar.
Então aconteceu.
Sem aviso, o Universo se rasgou ao meio. Um imenso abismo se abriu no vazio.., como se as costuras do próprio espaço houvessem arrebentado. Uma névoa acinzentada se derramou pela abertura, e Langdon viu uma imagem aterradora. Mãos soltas no ar de repente se estendiam para pegá-lo, agarrando seu corpo, tentando arrancá-lo de seu mundo.
Não! Ele tentou se desvencilhar das mãos, mas não tinha braços... nem punhos. Ou será que tinha? De repente, sentiu o próprio corpo se materializar ao redor de sua mente. Sua carne voltara a existir e estava sendo agarrada por mãos fortes que o puxavam para cima. Não! Por favor!