Sentindo-se como um subchefe novato recebendo ordens de Daniel Boulud, Langdon fez o que ela mandava: tirou a pirâmide da bolsa e posicionou o cume de ouro por cima. Quando terminou, Katherine estava ocupava enchendo uma imensa panela com água da torneira.
— Pode levar isto aqui até o fogão para mim, por favor?
Langdon ergueu a panela cheia d’água e a pôs em cima do fogão enquanto Katherine acendia a boca e aumentava a chama.
— Vamos cozinhar lagostas? — perguntou ele, esperançoso.
— Muito engraçado. Não, vamos praticar alquimia. E, para seu governo, essa panela é de massa, não de lagosta. — Ela apontou para o escorredor que havia retirado da panela e pousado sobre a bancada ao lado da pirâmide.
— E fazer macarrão vai nos ajudar a decifrar a pirâmide?
Katherine ignorou o comentário, assumindo um tom sério.
— Como tenho certeza de que você sabe, existe um motivo histórico e simbólico para os maçons terem escolhido o grau 33 como o mais elevado da irmandade.
— Claro — respondeu Langdon. Na época de Pitágoras, seis séculos antes de Cristo, a tradição da numerologia alardeava o 33 como o mais elevado de todos os Números Mestres. Ele era o mais sagrado, o que simbolizava a Verdade Divina. A tradição perdurou entre os maçons... e em outras instituições. Não é à toa que os ensinamentos cristãos dizem que Jesus foi crucificado aos 33 anos, apesar de não haver nenhum indício histórico disso. Tampouco é coincidência o fato de José supostamente ter 33 anos ao se casar com a Virgem Maria, ou de Jesus ter operado 33 milagres, ou de o nome de Deus ter sido mencionado 33 vezes no Gênesis. Em outras religiões, o número também aparece. No islamismo, todos os habitantes do paraíso têm eternamente 33 anos.
— Trinta e três — disse Katherine — é um número sagrado em muitas tradições místicas.
— Correto. — Langdon ainda não entendia o que isso tinha a ver com a panela de macarrão.
— Então você não deveria ficar surpreso que um precursor da alquimia, membro da Ordem Rosa-cruz e místico como Isaac Newton considerasse o número 33 especial.
— Não tenho duvidas de que ele considerava mesmo — retrucou Langdon. — Newton se interessava muito por numerologia, profecia e astrologia, mas o que isso...
— Tudo é revelado no grau 33.
Langdon tirou o anel de Peter do bolso e leu a inscrição. Então tornou a olhar para a panela d’água.
— Desculpe, não estou entendendo.
— Robert, a princípio nós todos imaginamos que “grau 33” estivesse se referindo ao grau maçônico, mas, quando giramos o anel em um ângulo de 33 graus, o cubo se transformou e revelou uma cruz. Nessa hora, percebemos que a palavra grau estava sendo usada em outro sentido.
— Sim. Graus de uma circunferência.
— Exatamente. Mas grau tem também um terceiro significado.
Langdon olhou para a panela d’água em cima do fogão.
— Graus de temperatura.
— Exatamente! — exclamou ela. — A resposta estava na nossa cara a noite inteira. “Tudo é revelado no grau 33.” Se esquentarmos a pirâmide a essa temperatura... talvez ela revele alguma coisa.
Langdon sabia que Katherine era uma cientista extremamente inteligente, mas, apesar disso, ela parecia estar deixando escapar um detalhe bastante óbvio.
— Se não me engano, 33 graus na escala Fahrenheit, que usamos aqui nos Estados Unidos, é quase a temperatura do congelamento. Não deveríamos colocar a pirâmide no freezer?
Katherine sorriu.
— Não se quisermos seguir a receita do grande alquimista e rosa-cruz que assinava seus documentos como Jeova Sanctus Unus.
Isaacus Neutonuus escreveu receitas?
— Robert, a temperatura é o mais importante catalisador alquímico e nem sempre foi medida pelas escalas Fahrenheit ou Celsius. Existem outras bem mais antigas, uma delas inventada por Isaac...
—A escala de Newton! — exclamou Langdon, percebendo que ela estava certa.
— Isso! Isaac Newton inventou todo um sistema para quantificar a temperatura inteiramente baseado em fenômenos naturais. A temperatura de fusão do gelo foi o ponto inicial de Newton, que a batizou de “grau zero”. — Ela fez uma pausa. — Imagino que você consiga adivinhar que grau ele atribuiu à temperatura de ebulição da água, o rei de todos os processos alquímicos.
— Trinta e três.
— Sim, 33! O grau 33. Na escala de Newton, a temperatura de fervura da água é 33 graus. Lembro que um dia perguntei ao meu irmão por que Newton tinha escolhido esse número. Afinal de contas, parecia aleatório demais. A fervura da água é o mais fundamental dos processos alquímicos, e ele escolhe 33?