Uma expressão desafiadora animava os olhos cinzentos de Solomon.
- Não faço idéia do que você está falando!
Mal'akh deu outro gole no chá e pousou a xícara sobre um porta-copos.
- Você me disse essas mesmas palavras há 10 anos, na noite em que sua mãe morreu.
Os olhos de Solomon se arregalaram.
- Você... ?
- Ela não precisava ter morrido. Se você tivesse me dado o que eu pedi...
O rosto do homem mais velho se contorceu, transformando-se em uma máscara de horror na qual se misturavam reconhecimento... e incredulidade.
- Eu avisei - disse Mal'akh - que se você puxasse o gatilho eu iria assombrá-lo para sempre.
- Mas você está...
Mal'akh avançou, tornando a pressionar com força a arma de choque contra o peito de Solomon. Houve outro clarão azul, e Solomon ficou totalmente inerte.
Mal'akh guardou a pistola no bolso, terminando de beber seu chá com calma. Quando acabou, enxugou a boca com um guardanapo de linho bordado com um monograma e olhou para sua vítima.
- Vamos?
O corpo de Solomon estava imóvel, mas seus olhos continuavam arregalados e alertas.
Mal'akh se agachou perto dele e sussurrou no seu ouvido.
- Vou levar você a um lugar onde só a verdade permanece.
Sem mais nenhuma palavra, Mal'akh embolou o guardanapo com o monograma e o enfiou dentro da boca de Solomon. Então, ergueu o corpo flácido do homem sobre os ombros largos e encaminhou-se para o elevador privativo. Na saída, recolheu da mesa do hall o iPhone e as chaves de Solomon.
Hoje à noite você vai me contar todos os seus segredos, pensou Mal'akh. Inclusive por que me abandonou tantos anos atrás como se eu tivesse morrido.