- Como por exemplo...?
- Bom ... como a teoria do entrelaçamento, por exemplo! - A pesquisa subatômica tinha provado categoricamente que toda matéria estava interligada ... entrelaçada em uma única trama unificada ... uma espécie de unidade universal. - Você está me dizendo que os antigos ficavam sentados conversando sobre a teoria do entrelaçamento?
- Sem dúvida! - disse Peter, afastando dos olhos a comprida franja escura. O entrelaçamento estava no cerne das crenças primitivas. Seus nomes são tão antigos quanto a história... Dharmakaya, tao, brâman. Na verdade, a mais antiga busca espiritual do homem era para perceber seu próprio entrelaçamento, sentir sua interconexão com todas as coisas. O homem sempre quis se tornar "um" com o Universo... alcançar o estado de união. - Seu irmão arqueou as sobrancelhas. - Até hoje, judeus e cristãos ainda buscam a redenção... embora a maioria de nós tenha se esquecido de que, na verdade, o que estamos buscando é a união.
Katherine deu um suspiro, pois tinha se esquecido de como era difícil discutir com um homem tão versado em história.
- Tudo bem, mas você está generalizando. Eu estou falando de física específica.
- Então seja específica. - Os olhos dele agora a desafiavam.
- Tudo bem, que tal algo tão simples quanto a polaridade... o equilíbrio entre positivo e negativo do universo subatômico. É óbvio que os antigos não enten...
- Espere aí! - Seu irmão puxou da estante um grande volume empoeirado, que deixou cair com um baque sobre a mesa da biblioteca. - A polaridade moderna nada mais é do que o "mundo dual" descrito por Krishna aqui no Bhagavad Gita mais de dois mil anos atrás. Uma dezena de outros livros desta biblioteca, incluindo o Caibalion, falam sobre sistemas binários e forças opostas na natureza.
Katherine estava cética.
- Tá, mas se falarmos das modernas descobertas subatômicas... do princípio da incerteza de Heisenberg, por exemplo...
- Nesse caso, devemos procurar aqui - disse Peter, avançando pela estante comprida e pegando outro livro. - As escrituras védicas sagradas dos hindus conhecidas como Upanishads. - Ele deixou o volume cair pesadamente sobre o primeiro. - Heisenberg e Schrodinger estudaram este texto e lhe deram o crédito por tê-los ajudado a formular algumas de suas teorias.
A explicação prosseguiu por vários minutos, e a pilha de livros empoeirados sobre a escrivaninha foi ficando cada vez mais alta. Por fim, Katherine jogou as mãos para o alto, frustrada.
- Tá bom! Você provou seu argumento, mas eu quero estudar física teórica de ponta. O futuro da ciência! Duvido muito que Krishna ou Vyasa tivessem muita coisa a dizer sobre a teoria das supercordas e sobre modelos cosmológicos multidimensionais.
- Tem razão. Não tinham mesmo. - Seu irmão fez uma pausa, um sorriso cruzando seus lábios. - Se você estiver falando em teoria das supercordas... - Ele tornou a se aproximar da estante. - Então está se referindo a este livro aqui. - Ele sacou da prateleira um volume pesadíssimo com encadernação em couro e deixou-o cair sobre a mesa com um estrondo. - Tradução do século XIII do aramaico medieval original.
- Teoria das supercordas no século XIII?! - Katherine não estava acreditando. - Faça-me o favor!
A teoria das supercordas era um modelo cosmológico novinho em folha. Baseado nas mais recentes observações científicas, ela sugeria que o universo multidimensional era constituído não por três... mas sim por dez dimensões, todas elas interagindo feito cordas vibratórias, parecidas com as cordas ressonantes de um violino.
Katherine aguardou enquanto o irmão abria o livro e examinava o sumário impresso em letras floreadas, avançando em seguida até um trecho logo no início.
- Leia isto aqui. - Ele apontou para uma página desbotada de texto e diagramas.
Obediente, Katherine analisou a página. A tradução era antiquada e difícil de ler, mas, para seu total espanto, o texto e os desenhos delineavam com clareza exatamente o mesmo universo descrito pela moderna teoria das supercordas - um universo de cordas ressonantes em 10 dimensões. Então, ao avançar na leitura, ela de repente arquejou de espanto e recuou.
- Meu Deus, eles descrevem até como seis das dimensões estão entrelaçadas e agem como uma só?! - E, dando um passo assustado para trás: - Mas que livro é este?
Seu irmão escancarou um sorriso.
- Um livro que espero que você leia um dia. - Ele tornou a virar as páginas até a folha de rosto, onde um elaborado frontispício impresso continha quatro palavras.
O Zohar - Versão Integral.