Os homens assim fizeram; João-Pequenino despediu-se do pae, e foram-se embora com o rapazinho. Fartáram-se de caminhar até ao cair da tarde; n'essa occasião o boccadinho de gente gritou-lhes:
—Parem, que preciso de descer!
—Deixa-te estar no meu chapéu; não estejas com cerimonias, porque os passarinhos tambem me fazem isso muita vez!
—Não, não quero!—insistiu João-Pequenino—ponham-me depressa no chão.{79}
O homem pegou no João-ninguem e pôl-o no chão n'um relvado á beira-estrada; João-Pequenino depressa alcançou umas moutas e de repente encafuou-se n'uma toca de rato que buscára de propósito.
—Boa viagem, meus senhores, continuem o caminho sem a minha companhia—lhes gritou, rindo. Quizeram agarrál-o, fazendo cócegas na toca de rato com palhinhas—como é de uso fazer-se aos grillos, mas perderam o tempo e o feitio, pois que João-Pequenino cada vez se mettia mais para dentro da toca, e a noite visinhava-se, de modo que foram obrigados a ir para casa, fulos e com as mãos a abanar.
Quando já iam longe, João-Pequenino saiu do improvisado esconderijo. Arreceou-se de seguir viagem á noite, por meio de campos, porque partir uma perna não é difficil. Felizmente avistou uma cavidade no topo de uma arvore, exclamando:{80}
—Louvado Deus, já tenho casa para dormir.
Quando ia a pegar no somno, ouviu a voz de tres homens que abancaram por baixo da arvore, ceando e conversando:
—Como havemos de proceder para roubar a esse rico parocho toda a sua fortuna?
—Eu lhes digo!—dirigiu-se lhes a voz invisivel.
—Quem está ahi?!—gritou um dos ladrões verdadeiramente aterrorizado—Ouvi uma voz!
Calaram-se para escutar, quando João-Pequenino se tornou a ouvir:
—Tomem-me á sua conta, que eu os ajudarei n'essa piedosa tarefa.
—onde é que estás?