Antes de enfiar o gorro de esqui na cabeça, Andros cheirou uma carreira de cocaína, a primeira em muito tempo. Sentiu a conhecida onda de destemor. Sacou uma arma, usou uma velha chave para destrancar a porta e entrou no recinto.
- Olá, família Solomon.
Infelizmente, a noite não correu como Andros esperava. Em vez de conseguir a pirâmide que tinha ido buscar, ele foi alvejado com tiros de chumbinho e teve que fugir pelo gramado coberto de neve em direção à mata densa. Para sua surpresa, Peter Solomon saiu em seu encalço com uma pistola reluzindo na mão. Andros correu para o meio da mata e desceu uma trilha que margeava um desfiladeiro. Lá embaixo, o barulho de uma cascata subia ecoando pelo cortante ar de inverno. Ele passou por um bosque e fez uma curva para a esquerda, derrapando ao frear na trilha congelada e escapando da morte por um triz.
Meu Deus!
Poucos metros adiante, a trilha acabava, mergulhando direto num rio congelado bem lá embaixo. A grande rocha ao lado da trilha tinha sido gravada pela mão inexperiente de uma criança:
Do outro lado da ribanceira, a trilha continuava. Mas onde está a ponte? A cocaína não estava mais fazendo efeito. Estou encurralado! Em pânico, Andros se virou para voltar pela mesma trilha, mas deu de cara com Peter Solomon em pé à sua frente, ofegante, com a pistola na mão.
Andros olhou para a arma e recuou um passo. A queda atrás dele tinha pelo menos 15 metros até um rio de superfície congelada. A bruma da cascata se erguia à sua volta, gelando-o até os ossos.
- A ponte do Zach apodreceu há muito tempo - disse Solomon, sem fôlego. - Ele era o único a vir tão longe. - Solomon segurava a arma com a mão espantosamente firme. - Por que você matou meu filho?
- E1e não era nada - retrucou Andros. - Não passava de um viciado. Eu fiz um favor a ele.
Solomon chegou mais perto, a arma apontada para o peito de Andros.
- Talvez eu devesse retribuir o favor. - Seu tom era surpreendentemente cruel, - Você espancou meu filho até a morte. Como é que alguém faz uma coisa dessas
- As pessoas fazem coisas inimagináveis quando levadas ao limite.
- Você matou meu filho!
- Não - retrucou Andros, assumindo um tom exaltado. - Quem matou se filho foi você. Que tipo de pai deixa o filho na prisão quando tem a possibilidade de tirá-lo de lá? Você matou seu filho! Não eu.
- Você não sabe de nada! - berrou Solomon com a voz cheia de dor.
Você está errado, pensou Andros. Eu sei de tudo.