Em 2009, o filme "John Rabe", uma co-produção entre China e Alemanha, ganhou grande sucesso na China e no estrangeiro. Considerado a versão chinesa de "A Lista de Schindler", o longa é uma adaptação do diário do alemão John Rabe, escrito durante a Segunda Guerra Mundial. Nos anos 1930, durante o "massacre de Nanjing", Rabe criou a "zona internacional de segurança", o que salvou a vida de 200 mil chineses. Suas ações humanitárias e suas contribuições à amizade entre a China e Alemanha vão ser lembradas para sempre. Nosso correspondente na Alemanha foi a Heidelberg e entrevistou Thomas Rabe, neto de John Rabe.
Nascido em 1882 em Hamburgo, John Rabe veio à China em 1908 e passou por Shenyang, Beijing, Tianjin, Shanghai e Nanjing, entre outras cidades, a negócios. Entre 1931 e 1938, Rabe se estabeleceu como representante da companhia alemã Siemens em Nanjing. Durante as mais de três décadas em que esteve em solo chinês, Rabe criou laços de amizade profundos com o povo local.
Em 1937, antes da invasão de Nanjing pelas tropas japonesas, John Rabe e outros estrangeiros habitantes da cidade estabeleceram juntos o Comitê Internacional da Zona de Segurança de Nanjing, sendo Rabe o presidente eleito da entidade. Durante o massacre de Nanjing, esses amigos estrangeiros se apoiaram em seu senso de justiça e compaixão para salvar a vida de mais de 200 mil chineses confinados nessa zona de segurança, com área total de menos de quatro quilômetros quadrados.
Como especialista em obstetrícia do Hospital da Universidade de Heidelberg e também renomado escritor, o neto de John Rabe, o professor Thomas Rabe, disse-nos que a reação do avô à guerra não o surpreende.
"Meu avô sempre falava sobre os tantos anos que tinha vivido na China. Muitos dos seus filhos e netos nasceram no país asiático, e então ele deve ter sentido que tinha responsabilidade sobre os amigos chineses. Ele contava que, durante todo o período em que esteve na China, até mesmo durante a guerra, o povo chinês sempre foi simpático e demonstrou este espírito humanitário e uma atitude de responsabilidade pelos outros, o que o comoveram muito. O envolvimento dele com a guerra antijaponesa não se tratou de um ato isolado, mas era parte de uma ação conjunta realizada por outros mais de 20 amigos estrangeiros."
Durante o massacre de Nanjing, Rabe foi a diversos lugares para pedir a suspensão dos atos violentos e crueis cometidos pelas tropas japonesas. Ele anotava as atrocidades das forças japonesas em seu diário para depois negociar com a embaixada japonesa e protestar contra as atitudes dos soldados nipônicos. O mais importante é que ele manteve o famoso "Diário de Rabe", onde anotou detalhadamente os crimes que as tropas nipônicas cometeram contra habitantes comuns e soldados chineses, o que é hoje considerada uma grande prova dos crimes.
"Como descendente de John Rabe, eu agradeço pela celebração ao meu avo e à nossa família feita pelo povo chinês. De fato, o meu avô era muito corajoso e superou diversas dificuldades para estar em Nanjing, pois além de a situação ser bastante perigosa, ele tinha diabetes. Sinto muito orgulho dele, pois ele cumpriu finalmente sua tarefa."
O diário de John Rabe foi publicado pela primeira vez durante uma coletiva de imprensa realizada em Nova York, em dezembro de 1996, em memória dos compatriotas assassinados no massacre de Nanjing. Logo depois, as versões em chinês, alemão, inglês, japonês e outras línguas foram publicadas, despertando a atenção do mundo todo.
Após obter o direito de adaptação do diário do alemão em 1996, o produtor do filme "John Rabe" começou a procurar um diretor e atores para realizar o longa, que foi concluído somente dez anos depois. O diretor Florian Gallenberger, ganhador do Oscar, ficou comovido com história de Rabe e assumiu a produção da película, que foi concluída em 2009. Thomas Rabe elogiou o filme e o considera uma oportunidade para mais pessoas conhecer seu avô, sua família e a história do massacre de Nanjing.
"O papel do meu avô foi interpretado pelo ator Ulrich Tukur, que é muito parecido como meu avô. Durante aquele período tão difícil, meu avô sempre pintava, escrevia poemas e tentava influenciar os outros com seu espírito otimista. Tukur interpretou brilhantemente este aspecto dele."
Depois de regressar à Alemanha em 1938, John Rabe continuou revelando o crime das forças japonesas contra Nanjing. Ele escreveu para o governo alemão, pedindo que exercesse pressão contra o Japão. Após a Segunda Guerra Mundial, porém, John Rabe, por ser nazista, teve que passar por julgamentos. Devido aos seus atos humanitários em Nanjing, muitos habitantes da cidade e o governo chinês o ajudaram a superar suas dificuldades financeiras. Ele faleceu em Berlim em 1950.
Ao ouvir que seu avô fora eleito um dos "Dez amigos internacionais da China" pelo público de internautas da Rádio Internacional da China, da Associação do Povo Chinês para a Amizade com os Países Estrangeiros e da Administração Estatal dos Assuntos dos Especialistas Estrangeiros, Thomas ficou bastante alegre.
"Este é uma grande honra para meu avô e minha família. Estamos contentes de que o que meu avô fez em Nanjing há mais de 70 anos é até hoje reconhecido pelo povo chinês. Minha esposa e eu vamos participar da cerimônia de condecoração desta atividade em Beijing e acreditamos que será o momento mais importante das nossas vidas."
(por Chen Ying)