Todos os produtos avaliados são vendidos como tendo FPS 30, mas os índices obtidos na análise variam entre 13,1 e 22,8.
Quem se saiu pior foi o spray da Banana Boat, seguido pelo da Coppertone, que, segundo o teste, tem o FPS 14. O da Cenoura & Bronze teve o melhor resultado, apesar de ficar oito pontos abaixo do que anuncia na embalagem.
Também foram avaliadas as marcas Australian Gold, L'Oréal, Natura, Nivea, O Boticário, Red Apple e Sundown (veja quadro abaixo).
O teste mediu a proteção contra raios UVA e UVB e seguiu metodologias internacionais reconhecidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Para a análise de FPS, que mede a proteção contra os raios UVB, foi feito teste in vivo, com em média dez voluntários por marca. A análise de UVA foi feita in vitro, e duas marcas foram consideradas ruins nesse quesito (Australian Gold e Red Apple).
"Em geral, os fabricantes usam o mesmo teste para aprovar os produtos. Não há justificativa metodológica para resultados tão ruins", diz Márcia Carvalho, pesquisadora da Proteste.
A Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) contestou os resultados e a metodologia do teste por meio de nota.
"Os filtros analisados são de empresas comprometidas com a qualidade e eficácia de seus produtos. [Protetores em spray] requerem procedimentos específicos para determinação do FPS, que, se não aplicados adequadamente, podem impactar negativamente no resultado final."
Em testes de eficácia, o filtro em spray é usado de forma diferente da que o consumidor está acostumado. Em vez de borrifado na pele, o produto é aplicado em gotas e espalhado com uma luva.
Tudo isso para ter certeza de que a pele está recebendo 2 mg de filtro por cm², explica o dermatologista Sérgio Schalka, da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
"É mais complexo fazer um teste de filtro em spray do que em emulsão. É um produto volátil." Além disso, o método tem um grau de incerteza, porque mede a formação de vermelhidão da pele. "É uma resposta individual que depende da quantidade de produto e da forma que é usado."
De acordo com a Proteste, foram tomados todos os cuidados específicos para a aplicação do spray.
"Se os dados estiverem corretos, é preocupante. É preciso exigir que a indústria modifique o seu rótulo para que ele seja condizente com o conteúdo", diz o dermatologista Davi de Lacerda.
A Proteste enviou os resultados à Anvisa e pede readequação dos rótulos.
FORA DO LABORATÓRIO
O teste dos protetores em spray levanta uma questão: se a eficácia do filtro cai dependendo da forma de aplicação --e nos testes o produto é usado de um jeito que ninguém usa-- seriam esses filtros para borrifar menos eficazes do que as loções?
Não, afirma Schalka. "Funciona superbem, mas se aplicar mal ou pouco o efeito despenca. De FPS 30, pode cair para sete", diz.
Como ninguém consegue aplicar com precisão 2 mg de filtro por cm², o certo é pintar a pele de forma lenta, "como se estivesse pichando um muro", e com uma certa proximidade para que não evapore o produto e sem espalhar depois.
O médico recomenda que a primeira aplicação seja feita com o filtro em loção, em duas camadas, e o spray seja usado nas reaplicações.
A dermatologista Solange Teixeira, da Unifesp, indica o uso de produtos com fatores de proteção mais elevados para compensar os erros de aplicação.
"Se cair de FPS 50 para 25, é melhor do que se cair de 30 para 15. Mas aí há outro problema: sprays já são mais caros e o de FPS 50 é mais caro ainda", diz Schalka.