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CAPíTULO 46
Do lado de fora da habisfera o vento catabático que descia
furiosamente pela geleira era bem diferente dos ventos que
Tolland estava acostumado a enfrentar. No oceano, o vento
era uma funcao das marés e de frentes de pressao, batendo
em rajadas, com fluxos e refluxos. O vento catabático,
contudo, obedecia a uma física mais simples: ar frio e pesado
descendo por uma inclinacao na geleira como uma enorme
onda. Era a tempestade mais violenta que o oceanógrafo já
havia enfrentado. Se estivesse descendo a 20 nós, seria o
sonho de qualquer velejador. Em sua velocidade atual de 80
nós, podia facilmente tornar-se um pesadelo até mesmo para
alguém em solo firme.
Michael percebeu que, se ficasse parado e se inclinasse para
trás, a forca da ventania poderia facilmente jogá-lo para cima.
O vento se tornava ainda pior, deixando Tolland mais
preocupado, porque o terreno onde estavam era ligeiramente
inclinado. A plataforma descia lentamente em direccao ao
oceano, cerca de três quilómetros abaixo. Apesar dos
crampons afiados presos às suas botas, ele tinha a
desagradável sensacao de que qualquer passo em falso
poderia fazer com que fosse derrubado por uma lufada de
vento e escorregasse pela ladeira de gelo sem fim. O curso-
relampago de Norah Mangor sobre seguranca em geleiras
agora parecia ter sido perigosamente breve.
Piqueta de gelo, ela havia dito, amarrando uma ferramenta
leve em formato de T no cinto de cada um deles enquanto se
preparavam na habisfera. Tudo de que precisam se lembrar é
que, se alguém escorregar ou for pego de surpresa por uma
rajada de vento, segurem a piqueta com as duas maos - uma
na cabeca e a outra no cabo -, depois enfiem a lamina no gelo
e caiam sobre ela, plantando seus crampons na neve.
Após dizer essas palavras tranquilizadoras, Norah havia
amarrado um cinturao de seguranca em cada um deles.
Usando óculos protetores, todos saíram para a escuridao da
tarde.
Dan_Brown_-_A_conspirao 207