Enquanto o visitante se esforçava para esvaziar os bolsos do casaco comprido usando apenas uma das mãos, Nuñez o observou com atenção. O instinto humano fazia concessões especiais aos feridos e deficientes, mas esse era um instinto que Nuñez havia sido treinado para superar.
O guarda esperou o visitante tirar do bolso a coleção habitual de moedas e chaves, além de dois telefones celulares.
- Torção? - perguntou Nuñez olhando para a mão ferida do homem, que parecia envolta em várias ataduras elásticas grossas.
O homem careca assentiu.
- Escorreguei no gelo. Faz uma semana. Ainda está doendo à beça.
- Sinto muito. Pode passar, por favor.
Mancando, o visitante atravessou o detector de metais, ao que a máquina protestou com um apito.
O visitante franziu o cenho.
- Estava com medo que isso acontecesse. Estou usando um anel debaixo das ataduras. Meu dedo estava inchado demais para tirar, então os médicos enfaixaram o braço por cima.
- Sem problemas - disse Nuñez. - Vou usar o detector manual.
Ele passou o detector manual por cima da mão enfaixada do visitante. Como era previsto, o único metal que o aparelho localizou foi uma grande protuberância no dedo anular machucado do homem. O guarda não se apressou ao esfregar o detector por cada centímetro da tipóia e do dedo do homem. Sabia que o seu supervisor provavelmente o estava monitorando pelo circuito fechado na central de segurança do prédio, e Nuñez precisava daquele emprego. Seguro morreu de velho. Com cautela, ele inseriu o detector dentro da tipóia do homem.