Eu sou um artefato... um ícone em construção.
Dezoito horas antes, um mortal tinha visto Mal'akh nu. O homem soltara um grito de medo.
- Meu Deus, você é um demônio!
- Se é assim que você me vê... - havia respondido Mal'akh, ciente, como os antigos, de que anjos e demônios eram idênticos, arquétipos intercambiáveis, e de que tudo era uma questão de polaridade: o anjo guardião que derrotava o inimigo no campo de batalha era considerado por ele um demônio destruidor.
Mal'akh então inclinou o rosto para baixo, obtendo uma visão oblíqua do próprio cocuruto. Ali, dentro do halo que parecia uma coroa, reluzia um pequeno círculo de pele clara, sem tatuagem. Aquela tela cuidadosamente preservada era o único pedaço de pele virgem do corpo de Mal'akh. O lugar sagrado vinha aguardando pacientemente... e naquela noite seria preenchido. Embora Mal'akh ainda não tivesse em mãos aquilo de que precisava para completar sua obra-prima, sabia que a hora estava se aproximando depressa.
Empolgado com o próprio reflexo, já podia sentir seu poder aumentar. Fechou o roupão e andou até a janela, olhando novamente para a cidade mística à sua frente. Ele está enterrado lá em algum lugar.
Tornando a se concentrar na tarefa em questão, Mal'akh foi até a penteadeira e, com cuidado, cobriu o rosto, o couro cabeludo e o pescoço com uma camada de corretivo até as tatuagens sumirem. Então vestiu as roupas e outros acessórios especiais que havia preparado meticulosamente para aquela noite. Ao terminar, examinou-se no espelho. Satisfeito, alisou o couro cabeludo com a palma suave de uma das mãos e sorriu.
Ele está lá, pensou. E hoje à noite um homem vai me ajudar a encontrá-lo.
Enquanto saía de casa, Mal'akh se preparava para o acontecimento que abalaria o prédio do Capitólio dos Estados Unidos naquela noite. Fizera um esforço imenso para colocar todas as peças em seus devidos lugares.
E agora, finalmente, seu último peão havia entrado no jogo.