O relógio de pêndulo de Mal'akh deu uma única badalada, e ele ergueu os olhos. Seis e meia da tarde. Deixando as ferramentas de lado, envolveu o corpo nu de 1,90m no roupão de seda japonês de Kiryu e desceu o corredor. O ar dentro da grande mansão estava pesado com o aroma pungente de seus pigmentos para a pele e da fumaça das velas de cera de abelha que ele usava para esterilizar as agulhas.
Ao atravessar o corredor, o homem alto passou por antiguidades italianas de preço inestimável - uma água-forte de Piranesi, uma cadeira Savonarola, uma lamparina de prata Bugarini. Enquanto andava pela casa, olhou por uma janela que ia do chão até o teto para admirar o contorno clássico da paisagem distante. O domo luminoso do Capitólio reluzia com um poder solene contra o céu escuro de inverno.
É lá que ele está escondido, pensou. Está enterrado lá em algum lugar.
Poucos eram os homens que sabiam da sua existência ... e mais raros ainda os que conheciam seu impressionante poder ou a forma engenhosa como havia sido escondido. Até hoje, era o maior segredo não revelado daquele país. Os poucos que de fato conheciam a verdade mantinham-na oculta atrás de um véu de símbolos, lendas e alegorias.
Agora eles abriram suas portas para mim, pensou Mal'akh.
Três semanas antes, em um ritual obscuro testemunhado pelos homens mais influentes dos Estados Unidos, Mal'akh havia alcançado o grau 33, o mais alto escalão da mais antiga irmandade ainda ativa no mundo. No entanto, apesar da nova posição de Mal'akh, os irmãos nada haviam revelado. E nem vão contar, sabia ele. Não era assim que funcionava. Havia círculos dentro de círculos... irmandades dentro de irmandades. Mesmo que Mal'akh esperasse muitos anos, talvez nunca viesse a conquistar sua total confiança.