CAPÍTULO 2
O homem que se apresentava como Mal'akh pressionou a ponta da agulha no couro cabeludo raspado, suspirando de prazer enquanto o instrumento pontiagudo entrava e saía de sua pele. O leve ronco do aparelho elétrico era viciante ... assim como as espetadelas da agulha que penetravam profundamente em sua derme para ali depositar o pigmento. Eu sou uma obra-prima.
O objetivo da tatuagem nunca foi a beleza. O objetivo era a mudança. Desde os sacerdotes núbios escarificados de 2000 a.C. até as cicatrizes moko dos maoris modernos, passando pelos acólitos tatuados do culto a Cibele na Roma antiga, os seres humanos haviam se tatuado como uma forma de oferenda, um sacrifício parcial do próprio corpo, suportando a dor física do embelezamento e sendo por ela transformados.
Apesar dos avisos ameaçadores em Levítico 19:28, que proibiam marcas na pele, as tatuagens se tornaram um rito de passagem compartilhado por milhões de pessoas na era moderna - de adolescentes mauricinhos a viciados em drogas e donas de casa suburbanas.
O ato de tatuar a própria pele era uma transformadora declaração de poder, um anúncio ao mundo: eu tenho controle sobre a minha própria carne. A embriagante sensação de poder advinda dessa transformação física deixara milhares de pessoas viciadas em práticas de alteração corporal - cirurgia plástica, piercings, fisiculturismo, anabolizantes e até mesmo bulimia e mudança de sexo. O espírito humano anseia por dominar seu invólucro carnal.