Tal era o extraordinario documento que textualmente li ao barão Curtis e ao capitão, porque trazia sempre commigo (e ainda trago) uma traducção d’elle, em inglez, na carteira.
Quando acabei, os dois amigos olhavam para mim, mudos de espanto. Por fim o capitão, com o leve suspiro de quem repousa d’uma prolongada emoção, bebeu um trago de grog--e mais sereno:
--O nosso amigo o snr. Quartelmar não nos tem estado a intrujar?
Metti com força o papel na algibeira, e, erguendo-me, repliquei sêccamente:
--Se os cavalheiros assim pensam, não me resta mais nada senão desejar-lhes muito boas noites!
O barão acudiu, pousando-me no hombro a sua larga mão:
--Pelo amor de Deus, snr. Quartelmar! Nem John, nem eu duvidamos da sua veracidade. Mas, emfim, tenho ouvido dizer que aqui na colonia é coisa corrente e bem aceita troçar um pouco os que chegam, os novatos d’Africa... E depois essa historia é tão extraordinaria!
Insisti, ainda offendido:
--O original escripto pelo velho fidalgo no farrapo de camisa, tenho-o em Durban! Será a primeira coisa que lhes hei de mostrar em chegando!... Não ha uma palavra...
O barão atalhou gravemente:
--Toda a palavra do snr. Quartelmar é coisa séria, e como tal a tomamos.
Durante um momento ficámos calados. Eu serenei. Por fim o barão, que dera sobre o tapete do beliche alguns passos pensativos, parou diante de mim:
--E meu irmão? Como soube o snr. Quartelmar que meu irmão tentou tambem essa jornada ás minas?
Narrei então o que me succedera com esse sujeito Neville, quando estavamos acampando, lado a lado, em Bamanguato. Eu não o conhecia; nem então começámos relações, apesar de termos o gado junto. Mas conhecia perfeitamente o serviçal que o acompanhava, um chamado Jim. Era um Bechuana, excellente caçador--e, para Bechuana, esperto, consideravelmente esperto! Na manhã em que Neville devia metter-se para o sertão, vi Jim, ao pé do meu carrão, cortando folhas de tabaco.