Cientistas anunciaram uma descoberta que os coloca mais próximos de provar a existência do misterioso bóson de Higgs, a chamada "partícula de Deus", supostamente responsável por conferir massa à matéria.
Analisando dados de cerca de 500 trilhões de colisões entre partículas subatômicas, numa experiência destinada a reproduzir as condições imediatamente posteriores ao Big Bang (explosão primordial que deu origem ao universo), os cientistas do Fermilab, nos arredores de Chicago, produziram cerca de mil partículas de Higgs em mais de uma década de trabalho.
"Infelizmente, essa pista não é suficientemente significativa para concluir que o bóson de Higgs existe", disse o físico Rob Roser, do Fermilab, ao explicar as descobertas que estão sendo apresentadas nesta quarta-feira (7) numa conferência em La Thuille, na Itália.
A imagem que os cientistas têm das efêmeras partículas de Higgs, que rapidamente se transformam em outras partículas, ainda é ligeiramente "borrada", segundo Roser.
Há uma chance de 1 em 250 de que os físicos tenham se deparado com um acaso estatístico, em vez de terem detectado um bóson de Higgs, e isso está perto do limite de 1 para 740 que a física estabeleceu para a prova da existência de uma partícula subatômica.
A detecção do bóson de Higgs poderia provar a existência de um campo invisível que supostamente permeia todo o universo. O campo de Higgs foi proposto na década de 1960 pelo cientista britânico Peter Higgs, como sendo a forma como a matéria obteve massa depois do Big Bang.
Segundo essa teoria, o bóson foi o agente que possibilitou o desenvolvimento das estrelas, dos planetas e da vida, ao dar massa às partículas mais elementares. Por isso alguns apelidam o bóson de "partícula de Deus".
Ele também completaria o Modelo Padrão da Física. Caso a partícula não exista, os físicos precisariam procurar outra explicação para o fato de as partículas terem adquirido massa em vez de ficarem vagando a esmo pelo universo.
A massa das partículas de Higgs encontradas no Fermilab é consistente com o que foi detectado no Grande Colisor de Hádrons, um acelerador de partículas mais poderoso, pertencente ao instituto europeu de pesquisas Cern, que funciona nos arredores de Genebra, na Suíça.
A descoberta do Fermilab foi feita no acelerador Tevatron, de 6,3 quilômetros de comprimento, que foi desativado em setembro de 2011. Esse trabalho agora será feito exclusivamente pelo Grande Colisor de Hádrons, que tem 27 quilômetros de perímetro para as colisões de partículas.
O Fermilab continua analisando os dados obtidos nas suas experiências, e Roser disse que uma conclusão definitiva pode ser apresentada em junho.