Vocês poderiam muito bem ser gêmeos, as pessoas sempre lhes diziam.
O pai deles havia sucumbido a um câncer quando Katherine tinha apenas 7 anos, e ela quase não se lembrava dele. Na ocasião, o irmão, com apenas 15 anos, oito a mais do que ela, teve que iniciar sua jornada para se tornar o patriarca dos Solomon, muito antes do que qualquer pessoa jamais havia sonhado. Como era de esperar, porém, Peter se adaptara ao papel com dignidade e força à altura do nome da família. Até hoje, cuidava de Katherine como se os dois ainda fossem crianças.
Apesar dos empurrõezinhos ocasionais do irmão e de não lhe faltarem pretendentes, Katherine nunca havia se casado. A ciência se tornara sua parceira de vida, e seu trabalho se revelara mais recompensador e estimulante para ela do que qualquer homem jamais poderia desejar ser. Katherine não se arrependia de nada.
A disciplina que ela havia escolhido - ciência no ética - era praticamente desconhecida quando Katherine ouvira falar nela na primeira vez, mas nos últimos anos tinha começado a abrir novas portas para a compreensão do poder da mente humana.
O nosso potencial desconhecido é realmente impressionante.
Os dois livros de Katherine sobre noética a haviam firmado como líder nessa disciplina obscura, mas as suas mais recentes descobertas, quando publicadas, prometiam transformar a ciência no ética em assunto de conversas mundo afora.
Naquela noite, no entanto, ela estava pensando em tudo menos em ciência. Mais cedo, tinha recebido informações preocupantes sobre o irmão. Ainda não consigo acreditar que seja verdade. Não havia pensado em mais nada a tarde inteira.
Com uma chuva fina tamborilando em seu pára-brisa, Katherine juntou rapidamente suas coisas para entrar. Estava prestes a descer do carro quando seu celular tocou.
Ela viu o nome de quem estava ligando e respirou fundo.
Então ajeitou os cabelos atrás das orelhas e se acomodou para atender.
A uns 10 quilômetros dali, Mal'akh percorria os corredores do prédio do Capitólio com um celular colado à orelha. Esperou pacientemente enquanto o telefone tocava do outro lado.
Por fim, uma voz de mulher atendeu.
- Sim?
- Precisamos nos encontrar de novo - disse Mal'akh.
Houve uma longa pausa.
- Está tudo bem?
- Tenho novas informações - disse Mal'akh.
- Pode falar.
Mal'akh respirou fundo.
- Aquilo que seu irmão acredita que está escondido na capital...?
- Sim.
- Pode ser encontrado.
Katherine Solomon soou espantada.
- Está me dizendo que ... é real?
Mal'akh sorriu.
- Às vezes uma lenda que dura muitos séculos... tem um motivo para durar.