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CAPíTULO 63
Michael Tolland estava deitado de lado no gelo, a cabeca
apoiada sobre o braco jogado acima do corpo. Já nao podia
mais sentir seu braco.
Suas pálpebras estavam pesadas, mas ele lutava para mantê-
las abertas.
Dessa perspectiva peculiarmente inclinada, Tolland observava
o mundo - agora reduzido a mar e gelo - pela última vez.
Parecia um final adequado para um dia no qual tudo tinha
sido estranho. Uma calma assustadora havia se espalhado
sobre a balsa de gelo flutuante. Rachel e Corky estavam em
silêncio, e ela tinha parado de bater contra o gelo. à medida
que se afastavam da geleira, o vento ia se acalmando.
Tolland ouvia seu corpo se aquietar também. Com o capuz
apertado contra os ouvidos, podia escutar a própria
respiracao, amplificada. Estava ficando mais lenta... mais
superficial. Seu corpo já nao conseguia lutar contra a
sensacao de compressao provocada pelo sangue
abandonando as extremidades como quem foge de um navio
condenado, fluindo instintivamente para seus órgaos vitais
num último e desesperado esforco para mantê-lo consciente.
Era uma batalha perdida.
Estranhamente, nao havia dor alguma. Já tinha passado
daquele estágio.
A sensacao agora era a de estar inflado. Dormente.
Flutuando. O primeiro de seus reflexos motores comecou a
nao obedecer: já nao podia piscar. Sua visao estava ficando
embacada. O humor aquoso, que circula entre a córnea e o
cristalino, estava se congelando. Tolland olhou para o borrao
em que se transformara a plataforma de gelo Milne, uma
vaga forma branca sob a lua enevoada.
Sentiu que sua alma admitia a derrota. Flutuando entre a
presenca e a ausência, contemplou as ondas do oceano ao
longe. O vento soprava em torno delas.
Foi entao que comecou a ter alucinacoes. Estranhamente,
nos últimos segundos de consciência, nao fantasiou que
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