Peter continuou descendo a escada.
— Robert, nós dois sabemos que os antigos ficariam horrorizados se vissem como seus ensinamentos foram deturpados... como a religião acabou virando uma cabine de pedágio para o céu... como soldados vão para a guerra acreditando que Deus está do lado deles. Nós perdemos a Palavra, mas seu verdadeiro significado continua a nosso alcance, bem diante de nossos olhos. Ele existe em todos os textos duradouros, da Bíblia ao Bhagavad Gita, passando pelo Alcorão e muitos outros. Todos esses textos são reverenciados nos altares da Francomaçonaria porque os maçons entendem o que o mundo parece ter esquecido... que cada uma dessas obras, à sua maneira, está sussurrando baixinho exatamente a mesma mensagem. — A voz de Peter se embargou de emoção. — “Não sabeis que sois deuses?”
Para espanto de Langdon, esse antigo adágio não parava de vir à baila naquela noite. Ele já havia pensado nisso durante a conversa com Galloway e também no Capitólio, enquanto tentava explicar A Apoteose de Washington.
Peter baixou a voz, falando num sussurro:
— Buda disse: “Você mesmo é Deus.” Jesus ensinou que “O reino de Deus está entre vós” e chegou até a nos prometer que “Quem crê em mim fará as obras que faço e fará até maior do que elas”:
Até mesmo o primeiro antipapa, Hipólito de Roma, citou a mesma mensagem, dita pela primeira vez pelo erudito gnóstico Monoimus: “Abandone a busca por Deus... em vez disso, procure por ele tomando a si mesmo como ponto de partida.”
Langdon se lembrou da Casa do Templo, onde a cadeira do Cobridor da loja trazia, em seu espaldar, a inscrição: CONHECE-TE A TI MESMO.
— Um homem sábio me disse certa vez: a única diferença entre você e Deus é que você se esqueceu de que é divino — contou Peter com um fiapo de voz.
— Peter, entendo o que você está falando... de verdade. E adoraria acreditar que somos divinos, mas não vejo deuses andando sobre a Terra. Não vejo pessoas com poderes sobre-humanos. Você pode citar os supostos milagres da Bíblia, ou qualquer outro texto religioso, mas tudo isso não passa de velhas histórias fabricadas pelo homem que o tempo se encarregou de exagerar.
— Pode ser — disse Peter. — Ou talvez seja preciso que a nossa ciência alcance a sabedoria dos antigos. — Ele fez uma pausa. — O engraçado é que... eu acho que a pesquisa de Katherine pode estar prestes a fazer justamente isso.
Langdon recordou de repente que Katherine tinha saído correndo da Casa do Templo.
— Para onde ela foi, afinal?
— Ela volta já — respondeu Peter com um sorriso. — Foi só confirmar uma notícia maravilhosa.
Do lado de fora, junto à base do monumento, Peter Solomon sentiu-se revigorado ao respirar o ar da noite. Achando graça, ficou observando Langdon examinar atentamente o chão, coçar a cabeça e olhar em volta para o pé do obelisco.
— Professor — brincou Peter —, a pedra angular que contém a Bíblia está debaixo da terra. Não dá para termos acesso ao livro, mas garanto que ele está lá.
— Eu acredito em você — disse Langdon, parecendo imerso em pensamentos. — Mas é que... percebi uma coisa.
Langdon então recuou e correu os olhos pela grande esplanada sobre a qual se erguia o Monumento a Washington. O espaço que circundava o obelisco era feito inteiramente de pedra branca... com exceção de dois caminhos decorativos de pedra escura, que formavam dois círculos concêntricos em volta do monumento.
— Um círculo dentro de um círculo — disse Langdon. — Nunca percebi que o Monumento a Washington ficava no meio de um círculo dentro de um círculo.
Peter teve de rir. Ele não deixa escapar nada.
— É, o grande circumponto... o símbolo universal de Deus... na encruzilhada dos Estados Unidos. — Ele encolheu os ombros, fingindo modéstia. — Tenho certeza de que é só coincidência.
Langdon, que agora olhava para o céu, parecia muito longe dali. Seus olhos subiam pelo obelisco iluminado, que brilhava muito branco em contraste com o céu negro de inverno.