Mal’akh sentiu que uma pessoa sozinha havia se aproximado em silêncio. Ele soube quem era. Pôde sentir o cheiro dos óleos sagrados com os quais besuntara o corpo raspado do pai.
— Não sei se você está me escutando — sussurrou Peter Solomon em seu ouvido. — Mas quero que saiba de uma coisa. Ele levou um dedo até o local sagrado no topo do crânio de Mal’akh. — O que você escreveu aqui... — Ele fez uma pausa. — Isto não é a Palavra Perdida.
É claro que é, pensou Mal’akh. Você me convenceu disso, sem deixar qualquer sombra de dúvida.
Segundo a lenda, a Palavra Perdida estava escrita em uma língua tão antiga e misteriosa que a humanidade havia praticamente esquecido como lê-la. Esse idioma misterioso, como Peter lhe revelara, era a linguagem mais antiga da Terra.
A linguagem dos símbolos.
Na simbologia, um símbolo reinava supremo acima dos outros. Sendo o mais antigo e o mais universal de todos, ele unia todas as tradições antigas em uma única imagem que representava a iluminação do deus-sol egípcio, o triunfo do ouro alquímico, a sabedoria da pedra filosofal, a pureza da rosa dos rosa-cruzes, o instante da Criação, o Todo, o domínio do sol astrológico e até mesmo o olho onisciente que tudo vê a flutuar no topo da Pirâmide Inacabada.
O circumponto. O símbolo da Fonte. A origem de todas as coisas.
Era isso que Peter Solomon havia lhe contado pouco antes. Mal’akh no início se mostrara cético, porém, quando tornou a olhar para a grade, percebeu que a imagem da pirâmide apontava diretamente para o símbolo específico do circumponto — um círculo com um pontinho no meio. A Pirâmide Maçônica é um mapa, pensou ele, que aponta para a Palavra Perdida. Parecia que, no fim das contas, seu pai estava dizendo a verdade.
Todas as grandes verdades são simples.
A Palavra Perdida não é uma palavra... é um símbolo.
Ansioso, Mal’akh havia tatuado o grande símbolo do circumponto no próprio couro cabeludo. Ao fazê-lo, sentira uma onda de poder e satisfação. Minha obra-prima e minha oferenda estão completas. As forças da escuridão o aguardavam. Ele seria recompensado por seu trabalho. Aquele seria seu instante de glória...
Mas, no último segundo, tudo saíra terrivelmente errado.
E lá estava Peter, ainda atrás dele, dizendo palavras que Mal’akh mal conseguia apreender.
— Eu menti para você — dizia ele. — Você não me deu escolha. Se eu tivesse lhe revelado a Palavra Perdida, você não teria acreditado em mim nem teria entendido.
A Palavra Perdida... não é o circumponto?
— A verdade — disse Peter — é que todos conhecem a Palavra Perdida... mas poucos sabem reconhecê-la.
As palavras ecoaram na mente de Mal’akh.
— Você continua incompleto — disse Peter, pousando a palma da mão com delicadeza sobre a cabeça de Mal’akh. — Seu trabalho ainda não terminou. Mas, para onde quer que vá, por favor, saiba de uma coisa... você foi amado.