A Sala do Templo.
Langdon engoliu em seco.
A atmosfera naquele ambiente sombrio e grandioso era de grande expectativa. Sob a clarabóia, o altar de mármore preto cintilava ao luar. Ao seu redor, sentado em cadeiras estofadas com couro de porco trabalhado à mão, um sóbrio conselho de renomados maçons de grau 33 aguardava para servir de testemunha. O vídeo então percorreu seus rostos com uma precisão lenta e deliberada.
Langdon encarou a cena, horrorizado.
Embora tivesse sido pego de surpresa, o que via fazia todo o sentido. Uma reunião dos maçons mais condecorados e eminentes na mais poderosa cidade do mundo obviamente incluiria muitas pessoas influentes e conhecidas. De fato, sentados em volta do altar, adornados com suas compridas luvas de seda, seus aventais maçônicos e suas jóias reluzentes, estavam alguns dos homens mais poderosos da nação.
Dois juízes da Suprema Corte...
O secretário de Defesa...
O presidente da Câmara...
Langdon sentiu um mal-estar enquanto o vídeo continuava a percorrer os rostos dos presentes.
Três importantes senadores... incluindo o líder da maioria no Senado...
O secretário de Segurança Nacional...
E... o diretor da CIA...
Tudo o que Langdon queria era desviar os olhos, mas não conseguiu. A cena, alarmante até mesmo para ele, o deixara totalmente hipnotizado. Em um segundo, ele havia compreendido por que Sato estava tão preocupada e aflita.
Então, na tela, a imagem deu lugar a uma cena chocante.
Um crânio humano... cheio de um líquido vermelho-escuro. A famosa caput mortuum estava sendo oferecida ao iniciado pelas mãos esguias de Peter Solomon, cujo anel maçônico de ouro cintilava à luz das velas. O líquido vermelho era vinho... mas brilhava feito sangue. O efeito visual era assustador.
A Quinta Libação, percebeu Langdon, que já tinha lido relatos em primeira mão daquele sacramento no livro Cartas sobre a Instituição Maçônica, de John Quincy Adams. Mesmo assim, ver aquilo acontecendo... e sendo calmamente presenciado pelos homens mais poderosos dos Estados Unidos... era estarrecedor. Aquela era uma das imagens mais chocantes que Langdon havia testemunhado na vida.
O iniciado tomou o crânio nas mãos... e seu rosto se refletiu na superfície do vinho. “Que este vinho que agora bebo se transforme em veneno mortal para mim”, declarou ele, “caso algum dia eu descumpra meu juramento deforma consciente ou voluntária.”
Evidentemente, a intenção daquele iniciado era violar seu juramento de um modo inconcebível.
Langdon mal conseguia pensar no que poderia acontecer caso aquele vídeo viesse a público. Ninguém entenderia. O governo enfrentaria uma grave turbulência. O noticiário seria tomado por grupos antimaçônicos, fundamentalistas e adeptos da teoria da conspiração alardeando ódio e medo, dando início a uma nova caça às bruxas puritana.
A verdade será distorcida, Langdon sabia. Como sempre acontece com os maçons.
A realidade é que a ênfase da irmandade na morte representa, no fundo, uma intensa celebração da vida. O objetivo do ritual maçônico é despertar o homem adormecido dentro de cada um, tirá-lo de seu escuro caixão de ignorância, alçá-lo à luz e dar-lhe olhos para ver. Somente por meio da morte o homem pode compreender totalmente sua experiência de vida. Apenas depois de entender que seus dias na Terra são finitos ele pode compreender a importância de vivê-los com honra, integridade e altruísmo.
Essas iniciações causam desconcerto porque pretendem ser transformadoras. Os votos maçônicos são implacáveis porque visam lembrar que a honra de um homem e sua “palavra” são tudo o que ele pode levar deste mundo. E seus ensinamentos são misteriosos porque têm como objetivo ser universais... transferidos por meio de uma linguagem comum de símbolos e metáforas que transcendem religiões, culturas e raças... criando uma “consciência mundial” unificada de amor fraterno.