O homem era muito alto e musculoso, com a familiar peruca loura e a pele bem bronzeada. Langdon reconheceu no mesmo instante os traços do rosto. As tatuagens obviamente haviam sido disfarçadas com uma maquiagem bronzeadora. Ele estava em pé diante de um espelho de corpo inteiro, filmando o próprio reflexo por meio da câmera escondida na peruca.
Mas... por quê?
A tela ficou preta.
Então surgiu outra imagem. Um recinto pequeno, mal iluminado e retangular. Um vistoso piso de ladrilhos quadriculado em preto e branco. Um altar de madeira baixo, ladeado por três colunas, acima das quais ardiam velas tremeluzentes.
Langdon sentiu uma apreensão repentina.
Ai, meu Deus.
Sacolejando como em um vídeo caseiro amador, a câmera girou até o fundo da sala para revelar um grupo de homens observando o iniciado. Eles usavam vestes rituais maçônicas. Na penumbra, Langdon não conseguiu distinguir seus rostos, mas não teve dúvidas quanto ao local onde aquela cerimônia estava ocorrendo.
A disposição tradicional poderia situar aquela sala maçônica em qualquer lugar do mundo, mas o frontão triangular azul-claro acima da cadeira do mestre a identificava como a Loja de Potomac nº 5 — a mais antiga da capital norte-americana, freqüentada por George Washington e pelos pais fundadores
maçons que haviam assentado a pedra angular da Casa Branca e a do Capitólio.
A loja continuava em atividade até hoje.
Além de supervisionar a Casa do Templo, Peter Solomon era mestre de sua loja local. E era em lojas como aquela que a jornada de um iniciado maçom começava... era lá que ele ingressava nos primeiros três graus da Francomaçonaria.
— Irmãos — disse a conhecida voz de Peter —, em nome do Grande Arquiteto do Universo, declaro aberta esta loja para a prática da Maçonaria no grau 1!
Um martelo bateu bem alto.
Langdon seguiu assistindo, sem conseguir acreditar no que via, enquanto o vídeo apresentava uma sucessão de imagens editadas que mostravam Peter Solomon presidindo alguns dos momentos mais intensos do ritual.
Apertando uma adaga reluzente contra o peito nu do iniciado... ameaçando-o de empalamento caso viesse a “revelar de forma inadequada os Mistérios da Maçonaria”... descrevendo o chão preto e branco como uma representação “dos vivos e dos mortos”... enumerando punições que incluíam “ter a garganta cortada de orelha a orelha, a língua arrancada pela raiz e o corpo enterrado nas ásperas areias do mar”...
Langdon não descolava os olhos do vídeo. Estou mesmo testemunhando isso? Havia séculos que os ritos de iniciação maçônicos permaneciam velados. As únicas descrições que vazaram tinham sido feitas por alguns irmãos dissidentes. Langdon lera esses relatos, é claro, mas ver uma iniciação com os próprios olhos... era algo totalmente diferente.
Sobretudo com as imagens editadas dessa forma. Langdon já podia perceber que aquele vídeo era uma propaganda injusta, que omitia todos os aspectos nobres da iniciação, enfatizando apenas os mais perturbadores. Se a gravação fosse divulgada, Langdon sabia que iria virar sensação na internet da noite para o dia. Os antimaçons adeptos da teoria da conspiração cairiam em cima deste vídeo feito tubarões. A instituição maçônica — e em particular Peter Solomon — se veria enredada numa tempestade de controvérsia e teria que fazer um esforço desesperado para conter os estragos... muito embora o ritual fosse inócuo e puramente simbólico.