Mas era tarde demais.
A dor fustigou seu peito enquanto as mãos o suspendiam pela abertura. Seus pulmões pareciam cheios de areia. Não consigo respirar! De repente, estava deitado de costas na superfície mais fria e dura que poderia imaginar. Alguma coisa não parava de pressionar seu tórax, com força, dolorosamente. Ele estava cuspindo o calor.
Eu quero voltar.
Tinha a sensação de ser uma criança saindo do útero.
Em meio a convulsões, Langdon tossia para eliminar o líquido. Seu peito e pescoço doíam. Uma dor excruciante. Sua garganta estava em chamas. Pessoas falavam, tentando sussurrar, mas o barulho era ensurdecedor. Com a visão embaçada, tudo o que conseguia ver eram formas indistintas. Sua pele estava dormente e parecia feita de couro.
Sentia o peito mais pesado... sob pressão. Não consigo respirar!
Tossiu mais líquido. Então um reflexo instintivo fez com que inspirasse com força, o ar frio penetrando-lhe os pulmões, como se fosse um recém-nascido respirando pela primeira vez. O mundo era um tormento. Tudo o que Langdon queria era voltar para o útero.
Robert Langdon não fazia idéia de quanto tempo havia transcorrido. Podia sentir que estava deitado de lado sobre um chão duro, envolto em toalhas e cobertores. Um rosto conhecido o olhava de cima... mas a luz gloriosa tinha sumido. Os ecos de cânticos distantes ainda soavam em sua mente.
Verbum significatium... Verbum omnificum...
— Professor Langdon? — sussurrou alguém. — O senhor sabe onde está?
Langdon assentiu com fraqueza, ainda tossindo.
O mais importante, no entanto, era que ele havia começado a perceber o que estava acontecendo naquela noite.
CAPÍTULO 113
Em pé sobre as pernas bambas, envolto em cobertores de lã, Langdon olhava para o tanque aberto. Seu corpo voltara a lhe pertencer, embora ele desejasse que não fosse o caso. Sua garganta e seus pulmões ardiam. O mundo parecia árduo e cruel.
Sato havia acabado de lhe explicar sobre o tanque de privação sensorial.. acrescentando que, se não o houvesse tirado de lá, ele teria morrido de fome ou coisa pior. Langdon não duvidava que Peter tivesse passado por experiência semelhante. O Sr. Solomon está no mundo intermediário, no
Hamistagan, dissera-lhe o homem tatuado mais cedo. No purgatório, concluíra Langdon. Se Peter tivesse sido submetido a mais de um daqueles processos de nascimento, não seria de admirar que houvesse revelado ao seqüestrador tudo o que ele desejava saber.
Sato gesticulou para que Langdon a seguisse e ele obedeceu, descendo vagarosamente um estreito corredor e penetrando mais fundo naquele antro bizarro que via pela primeira vez. Os dois entraram em um recinto quadrado com uma mesa de pedra e uma sinistra iluminação colorida. Katherine estava lá, e Langdon suspirou de alívio. Ainda assim, a cena era inquietante.
Ela estava deitada sobre a mesa de pedra. Toalhas encharcadas de sangue cobriam o chão. Um agente da CIA mantinha suspensa uma bolsa para administração intravenosa cujo tubo estava conectado ao seu braço.
Ela soluçava baixinho.
— Katherine? — disse Langdon com a voz embargada, mal conseguindo falar.
Ela virou a cabeça, parecendo desorientada e confusa.
— Robert? — Seus olhos se arregalaram de incredulidade e depois de alegria.
— Mas... eu vi você se afogar!
Ele se encaminhou para a mesa de pedra.
Katherine se ergueu até ficar sentada, ignorando a sonda intravenosa e as objeções do agente.
Langdon chegou à mesa e Katherine estendeu os braços, envolvendo seu corpo embrulhado em cobertores e abraçando-o apertado.
— Graças a Deus — sussurrou ela, beijando-lhe a bochecha. Então tornou a beijá-lo, apertando-o como se não acreditasse que fosse real. — Não estou entendendo... como...
Sato começou a dizer alguma coisa sobre tanques de privação sensorial e perfluorocarbonos oxigenados, mas era óbvio que Katherine não estava escutando. Simplesmente continuou a abraçar Langdon.
— Robert — disse ela —, Peter está vivo. — Sua voz rateou enquanto relatava o horripilante encontro com o irmão. Ela descreveu seu estado físico, falou da cadeira de rodas, da estranha faca, das alusões a algum tipo de “sacrifício” e contou como fora deixada sangrando tal qual uma ampulheta humana para convencer Peter a cooperar depressa.
Langdon mal conseguia falar.
— Você faz... alguma idéia... de para onde eles foram?
— Ele disse que iria levar Peter para a montanha sagrada.
Langdon se afastou e pôs-se a encará-la.
Os olhos de Katherine estavam marejados.
— Ele falou que tinha decifrado a grade da base da pirâmide e que ela indicara que fosse até a montanha sagrada.
— Professor — atalhou Sato —, isso significa alguma coisa para o senhor?
— Não — disse Langdon, balançando a cabeça. — Mas, se ele conseguiu essa informação na base da pirâmide, nós também podemos obtê-la... — falou, esperançoso. Fui eu que lhe mostrei como solucioná-la.