Felizmente, não precisava disso para descobrir seu mais bem guardado segredo.
Minha iniciação cumpriu seu objetivo.
Animado com o que estava por vir, ele seguiu a passos largos até seu quarto de dormir. Espalhados por toda a casa, alto-falantes transmitiam os sons fantasmagóricos de uma rara gravação de um castrato cantando o "Lux Aeterna" do Réquiem de Verdi - um lembrete de uma vida anterior. Mal'akh acionou o controle remoto para fazer soar o tonitruante "Dies Irae". Então, embalado por um fundo musical de furiosos tímpanos e quintas paralelas, disparou escadaria de mármore acima, com o roupão a esvoaçar conforme galgava os degraus com as pernas musculosas.
Enquanto corria, sua barriga vazia reclamou com um ronco. Já fazia dois dias que Mal'akh estava em jejum, bebendo apenas água, preparando o corpo segundo os antigos costumes. A sua fome será saciada ao raiar do dia, lembrou a si mesmo. Assim como a sua dor.
Mal'akh adentrou o santuário de seu quarto com uma atitude de reverência, trancando a porta atrás de si. Enquanto seguia em direção ao toucador, parou, sentindo-se atraído pelo enorme espelho dourado. Incapaz de resistir, virou-se para encarar o próprio reflexo. Vagarosamente, como quem desembrulha um precioso presente, abriu o roupão para revelar o corpo nu. A visão o deixou maravilhado.
Eu sou uma obra-prima.
Seu imenso corpo estava todo raspado e liso. Ele baixou os olhos primeiro para os pés, tatuados com as garras de um gavião. Mais acima, as pernas musculosas desenhadas como pilastras esculpidas em relevo - a esquerda em espiral, a direita com estrias verticais. Boaz e Jaquim. A virilha e o abdômen eram um arco decorado, acima do qual o peito forte exibia o brasão da fênix de duas cabeças ... ambas em perfil, com os olhos aparentes formados por seus mamilos. Os ombros, o pescoço, o rosto e a cabeça raspada estavam completamente tomados por uma intrincada tapeçaria de símbolos e marcas.