Volta de um homem enérgico.
Nas eleições para Regente, em 1835, saiu vencedor o antigo Ministro da Justiça, o Padre Feijó, um dos homens mais enérgicos de seu tempo. Seriam difíceis os dois anos de caminhada à frente do governo porque a desordem não cessara nas Províncias. Em junho de 1831 iniciara-se a Cabanagem; outros agitadores colocaram em polvorosa os sertões de Pernambuco e Alagoas, de 1832 a 35; eclodira em Ouro Preto, em 1833, uma rebelião chefiada pelo Comandante das Armas, mas fora sufocada pelas forças legais; na Bahia (1835) ressurgiu um antigo fenômeno social: a revolta de negros maleses, que investiram contra os quartéis, mas foram vencidos por destacamentos militares e por grupos de cidadãos armados; em setembro de 35, poucas semanas antes da posse do Regente, deflagrava-se nos pampas a Revolução Farroupilha, a mais comprometedora das rebeliões brasileiras, no tocante à integridade do país.
Além dos riscos corridos pela unidade nacional, os tumultos, os motins, as rebeliões e as paixões políticas perturbavam a obra administrativa do governo. À frente da oposição encontravam-se homens do porte de Bernardo de Vasconcelos, antigo campeão liberal que agora combatia o Regente. Para aglutinar a oposição contra o Regente, Bernardo de Vasconcelos criou o Partido do Regresso, que poucos meses depois passou a se chamar Partido Conservador. O relacionamento entre o Padre Feijó e a Câmara tornou-se difícil. Mesmo a substituição de Ministros atritados com o Legislativo não amenizava as divergências entre os dois poderes. Finalmente, reconhecendo a impossibilidade de governar com uma Câmara hostil, Feijó renunciou e entregou o governo à oposição (nomeando Ministro do Império Pedro de Araújo Lima, em 18 de setembro de 1837). Incansável no zelo pela coisa pública, honesto, voluntarioso, pouco hábil em transigir e em compor-se politicamente, o homem que primeiro experimentou no Brasil a gestão republicana transformou-se em vítima de suas próprias virtudes.
Perspectiva final.
Os regressistas chegaram ao poder com o objetivo de anular os excessos dos liberais. Invertiam-se os papéis. Agora os liberais, liderados pelos Andradas, constituíam a oposição na Câmara e na imprensa. O Partido Liberal nascia no início de 1838.
O novo Regente, Senador Pedro de Araújo Lima, que assumiu interinamente as funções em setembro de 1837 e foi efetivado por eleição em abril do ano seguinte, teve a árdua tarefa de continuar a obra de organização administrativa da nação em clima político tormentoso. Os ventos da rebelião continuaram assolando as Províncias. Estava ainda em curso a Revolução Farroupilha. Os sabinos levantaram-se contra o Presidente da Bahia e proclamaram a República Baiense, em novembro de 1837, mas foram derrotados pelo Brigadeiro João Crisóstomo Calado, em março de 1838. O Maranhão conflagrou-se no fim do mesmo ano e só em janeiro de 1841 foi pacificado, graças ao valor militar e à sabedoria do então Coronel Luís Alves de Lima e Silva, cuja estrela começava a refulgir em dimensões nacionais.
Corria o ano de 1840. Começou a ganhar força uma idéia desde muito veiculada em meios políticos e que também passou a empolgar as massas populares. Ela era particularmente grata aos liberais que viam um meio de alcançar o poder: por que não antecipar a maioridade de D. Pedro II e extinguir o regime provisório representado pela Regência? O debate do problema chegou ao Legislativo; o governo reagiu contra o desrespeito à Constituição e decretou férias parlamentares; em meio dos acalorados debates que se seguiram, na Câmara, ao decreto citado, o Senador Padre José Bento propôs que os deputados maioristas se reunissem aos senadores; e, encabeçados pelo deputado Antônio Carlos de Andrada, dirigiram-se para o Paço do Senado. Agitou-se o povo nas ruas, em expectativa. Sem reforma constitucional nem lei específica, deputados, senadores e populares dirigiram-se ao paço da Boa Vista. O Regente chegou mais tarde. D. Pedro II, com 14 anos de idade, foi consultado sobre a antecipação de sua maioridade e concordou. Na manhã de 23 de julho, o Presidente do Senado. Marquês de Paranaguá, Francisco Vilela Barbosa, proclamava D. Pedro II maior.
Encerrava-se um dos períodos mais brilhantes e fecundos da história brasileira, durante o qual muito foi feito para regular a vida administrativa, política e constitucional do país, que até bem pouco antes era dependente da Metrópole portuguesa. Manteve-se a unidade numa época em que eram poderosos os fatores que conduziam à desagregação do país