Participação do Brasil na guerra.
Com a autorização do Congresso Nacional, o Presidente Wenceslau Braz abriu os portos brasileiros aos navios de guerra das nações aliadas. O Brasil assumiu também o encargo de com a nossa Esquadra, patrulhar o Atlântico Sul, diminuindo os encargos das Marinhas amigas. Essa colaboração, entretanto, era limitada, face às necessidades de guerra e às nossas possibilidades. Sabia-se que os meios de transporte marítimo constituíam naquela ocasião um dos problemas vitais para os nossos aliados. Agindo dessa forma, livre e espontaneamente, quis o Brasil patentear, em ato inequívoco, o propósito franco e leal de dar não só solidariedade moral, mas também oferecer a participação material naquilo que se afigurava de grande utilidade para eles – o auxílio em meios de transporte marítimo.
Por outro lado, enquanto uma parte de nossa Marinha realizava o patrulhamento da orla marítima, durante dois anos, aproximadamente, a Divisão Naval em Operações de Guerra seguia, em 7 de maio de 1918, para os mares europeus para incorporar-se à Esquadra britânica em Gibraltar. Em 9 de agosto atingiu Freetown, permanecendo 14 dias neste porto, quando então os homens começaram a adoecer com o vírus da gripe espanhola. No dia 26 a Divisão entrou no porto de Dacar, nele permanecendo até 3 de novembro. A força naval era comandada pelo Contra-Almirante Pedro Max Fernando de Frontin e integrada pelos seguintes vasos de guerra: cruzadores Rio Grande do Sul (capitânia) e Bahia: contratorpedeiros Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina: tender Belmonte; rebocador de alto mar Laurindo Pitta.
Com isso, no campo militar, realizava-se o primeiro esforço naval fora de águas sul-americanas. Além dessa participação, o Brasil enviou um grupo de aviadores navais que, partindo para a Inglaterra em janeiro de 1918, ali começou treinamento intensivo, participando, a seguir, de missões de combate, juntamente com os pilotos ingleses da Royal Air Force. O grupo era constituído de um capitão-tenente e sete tenentes da Marinha de Guerra e do Tenente Aliatar de Araújo Martins, do Exército.
Ademais, aviadores brasileiros serviram em unidades francesas e britânicas, tendo muitos deles perdido a vida. Não se deve esquecer que oficiais de nosso Exército foram incorporados a vários regimentos franceses da linha de frente, onde muitos se distinguiram em combate, entre os quais o Gen José Pessoal Cavalcante de Albuquerque que, ainda tenente, comandou um pelotão do 4º Regimento de Dragões do Exército francês. Muitos tiveram os nomes citados em ordens do dia e foram agraciados com condecorações aliadas.
Mobilizou-se também um grupamento médico com a finalidade de instalar um hospital para tratamento de feridos de guerra na França.
Missão médica.
A Missão Médica despede-se do Presidente Wenceslau Braz, no Palácio do Catete.
A Missão Médica especial era chefiada pelo Dr. Nabuco Gouveia e orientada pelo General Napoleão Aché; operaria subordinada ao comando único dos exércitos aliados. A Missão partiu com 86 médicos, a 18 de agosto de 1918. Em Paris, incorporaram-se mais seis médicos, que nesta cidade se encontravam em caráter particular, no Hospital Franco-Brasileiro mantido pela colônia brasileira daquela cidade. Com exceção de cinco médicos do Exército e cinco outros da Marinha de Guerra, todos os demais eram civis convocados e comissionados em diversos postos. Integravam-na ainda 17 acadêmicos de medicina e 16 outros elementos, entre farmacêuticos, pessoal de intendência, de secretaria e contínuos, além de 30 praças do Exército indicados para constituir a guarda do Hospital Brasileiro instalado na capital francesa, na rua Vaugirard, para atender os feridos evacuados da frente de batalha.
Com a epidemia de gripe que assolava a França, todos os planos para o aproveitamento de nossa Missão Médica foram mudados radicalmente. O governo francês receava que a epidemia atingisse a retaguarda e desta forma ficassem sem apoio as frentes de batalha, o que evidentemente causaria o colapso da resistência aliada. A França convocara 700 médicos para combater a doença no interior do país. Os brasileiros seguiriam o mesmo destino dos médicos franceses.
A Missão Médica foi extinta em fevereiro de 1919; o Hospital ainda atuou por seis meses sob a responsabilidade dos brasileiros. Nesta oportunidade, o governo brasileiro doou as instalações e material para a Escola de Medicina da Universidade de Paris.
Armistício
Depois de fulminante contra-ofensiva dos exércitos aliados conduzidos pelo Marechal Ferdinand Foch, os alemães foram recalcados até a fronteira da França e dos Flandres belgas. A Alemanha, que enfrentava sérias dissenções internas, teve de render se e assinar o armistício a 11 de novembro de 1918. |
O Brasil havia cooperado para a vitória final. Após o armistício, o governo ordenou o regresso da Divisão Naval, da Missão Médica e dos demais elementos deslocados para a Europa e que em sua totalidade haviam sido voluntários, desmobilizando-os em seguida.
Embora modesto em quantidade, o nosso concurso à causa aliada foi bastante significativo. Externamente o Brasil, pela primeira vez em sua história, lutou ao lado das nações mais poderosas do mundo, revelando a capacidade de atuar em pé de igualdade com elas. Internamente houve uma melhoria na imagem das Forças Armadas e ampliou-se a idéia de nação armada e de cidadão-soldado, no sentido da proclamação que Olavo Bilac fizera em 1915.
"A caserna é uma escola. Sendo soldados, sereis cidadãos."