葡萄牙学习网
CAPITULO V A NOSSA ENTRADA NO DESERTO-15
日期:2024-11-12 10:27  点击:290
Mas depois, fóra, na plena luz, olhámos uns para os outros--envergonhados.
 
--Vou vêr outra vez, exclamou o barão terrivelmente pallido. Talvez a figura que vimos seja a de meu irmão.
 
Era possivel. E um por um, n’um silencio apavorado, atraz do barão, tornámos a penetrar na gruta. Ao principio, deslumbrados pela grande luz exterior e pela alvura da neve, nada distinguiamos na penumbra concava. Por fim a estranha, horrivel figura destacou, surgiu na sombra. Avançámos para ella. O barão ajoelhou, espreitou a face morta, teve um suspiro de allivio:
 
--Não, graças a Deus, não é elle!
 
Fui tambem olhar. Não, nem remotamente se parecia com esse sujeito chamado Neville, que eu encontrára em Bamanguato. O cadaver era o d’um homem alto, de meia idade, com feições aquilinas, cabello já grisalho, e longos bigodes negros. A pelle, perfeitamente amarella, estava toda esticada sobre os ossos. Não tinha fato, a não ser uns restos de meias altas, de lã, até aos joelhos. Do pescoço, preso por uma correntesinha, pendia-lhe um crucifixo de marfim. Todos os membros hirtos se lhe tinham petrificado.
 
--Quem poderá ser? Murmurei, assombrado.
 
O capitão John contemplava a figura pensativamente.
 
--Tenho uma idéa... Não póde ser senão elle! É o velho fidalgo! É D. José da Silveira!
 
Eu e o barão soltámos o mesmo grito de incredulidade:
 
--Impossivel! Ha trezentos annos!
 
Mas o capitão tinha as suas razões, e decisivas. N’uma temperatura como a da cova, que é a d’uma geleira, um corpo morto póde perfeitamente conservar-se trezentos annos--e mesmo tres mil... Essa temperatura de quinze a dezesete graus abaixo de zero nunca alli mudava; nenhum raio de sol entrára jámais n’aquella cova voltada para noroeste: não havia animaes que alli penetrassem e que destruissem o corpo. Que importavam tres seculos? A carne de açougue que vem da Nova-Zelandia para Londres dentro das geleiras artificiaes está fresca ao fim de trinta dias; e conservada em iguaes condições, não se deterioraria ao fim de trinta seculos. Naturalmente o escravo (de quem elle falla no papel) quando o encontrou morto, tirou-lhe o fato, não se deu ao trabalho de o enterrar, e abalou...
 
--E olhai! Accrescentou o capitão apanhando uma especie de osso da fórma d’um lapis, e aguçado, que jazia no chão, ao lado. Aqui está com que elle desenhou o mappa! Tirou sangue do braço, escreveu com esta ponta de osso!
 
Passámos o osso de mão em mão, em silencio, esquecendo as nossas proprias miserias no espanto d’aquelle encontro. Já não podia haver duvida. Alli estava elle pois, sentado n’uma pedra, frio e duro como ella, o homem cujo derradeiro escripto, traçado havia mais de trezentos annos, nos trouxera ao logar mesmo onde elle o escrevera--para o encontrar a elle proprio, na mesma attitude em que com seu sangue riscava o roteiro que d’além-tumulo nos guiava! Incomparavel maravilha! Alli tinha eu na mão a rude penna com que elle traçára essas linhas! E parecia que ante mim pouco a pouco resurgiam visiveis, redivivos, os momentos passados ha tres seculos:--o heroico fidalgo, morto de frio e de fome, procurando revelar ao seu Rei o segredo immenso que descobrira; a camisa rasgada, a veia aberta; as linhas tremulas anciosamente lançadas; a penna informe escorregando-lhe da mão; a treva da noite enchendo a cova; o derradeiro beijo pousado no crucifixo; um pensamento dado ainda aos seus, á terra d’onde partira n’um galeão, ao Rei que servia com indomada fé; por fim a morte, o lento e sereno resvalar para a morte, n’aquelle immenso silencio e na immensa solidão! 
分享到:

顶部
12/26 01:31
首页 刷新 顶部