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CAPITULO V A NOSSA ENTRADA NO DESERTO-14
日期:2024-11-12 10:23  点击:226
O barão, porém, agora acreditava firmemente na escrupulosa exactidão do velho D. José da Silveira. «Se elle a achou (argumentava o barão, e com razão) é que essa cova está situada de tal sorte, tão saliente e tão visivel, que não póde deixar de attrahir os olhos, e logo os passos de quem fôr trepando a serra».
 
--Ainda a encontramos, e antes do sol posto! Affirmou elle com um grande gesto de esperança.
 
--Se a não encontramos (foi a minha consoladora replica) e a noite vier sobre nós, assim desabrigados, é o fim da nossa aventura. Em todo o caso, real ou metaphoricamente, é a cova!
 
Durante dez ou doze minutos arrastámos os passos n’um silencio mortal. Umbopa ia adiante, com os hombros abafados na manta curta, e um cinto de couro muito apertado, arrochado em volta da cinta «para encolher a fome». Eu seguia atraz, quasi vergado em dois. De repente tropecei n’elle que parára, e que me agarrou pelo braço:
 
--Macumazan, acolá! Exclamou surdamente, apontando com o cajado.
 
O que elle apontava era a linha abrupta onde começava, subindo, a primeira encosta do «bico do peito». E ahi na brancura da neve destacava uma mancha preta.
 
--É a caverna! Exclamou Umbopa.
 
Talvez fosse! Parecia, com effeito, a abertura negra d’um buraco. Para lá endireitámos os passos. E na realidade encontrámos uma gruta, de entrada baixa e lôbrega, que bem podia ser a que o velho D. José da Silveira marcára no seu roteiro. Em todo o caso alli estava um abrigo. E bemdito era o seu encontro--porque (como succede n’estas latitudes) o sol sumiu-se subitamente, e logo atraz d’elle, de golpe, sem crepusculo, sem gradação, a noite cahiu, gelada e negra. Enfiámos bem depressa para dentro da caverna, como animaes acossados. Aconchegámo-nos uns contra os outros, sentados no chão, costas com costas. E alli ficámos na treva, mudos, tiritando e procurando esquecer no somno a nossa extrema miseria. Mas o frio, intenso de mais, não nos consentia dormir. Estou convencido que n’aquella altura o thermometro marcaria regularmente quatorze ou quinze graus abaixo de zero! E era esta temperatura que tinhamos de affrontar, de todo alquebrados de fadiga, meio inanimados de fome!
 
Pois alli estivemos em montão, encolhidos uns nos outros, durante a infindavel noite, sentindo a cada instante, através do corpo, começos de congelação ora n’um pé, ora nos dedos, ora na orelha. Debalde nos apertavamos! Para quê! Nenhum tinha em si calor bastante para communicar á carcassa alheia. Ás vezes um conseguia dormitar durante momentos, mas para acordar logo em sobresalto, recomeçar a tremer. De resto, n’aquellas condições, o somno que se prolongasse--decerto se tornaria eterno. Foi uma noite angustiosa! Eu por mim creio que me conservei vivo por um violentissimo e teimosissimo esforço da vontade.
 
Um pouco antes da madrugada, Venvogel, o nosso pobre Hottentote, cujos dentes toda a noite tinham batido como castanholas, chamou baixo por mim, deu um pequeno suspiro, e ficou profundamente socegado, como se tivesse adormecido. As costas d’elle pousavam contra as minhas costas. Pareceu-me que as sentia pouco a pouco arrefecer. Por fim tornaram-se positivamente como uma grande pedra de gelo que me regelava. Duas vezes as repelli. Duas vezes a pedra se abateu sobre mim, mais fria. O ar no emtanto clareava. Á entrada da cova foi apparecendo como uma nevoa luminosa, feita da refracção do sol sobre a neve. Uma luz mais viva e fixa estendeu para dentro a sua brancura--e olhando então para traz descobri que o pobre Hottentote estava morto! Decerto morrera quando o ouvi suspirar. Pobre Venvogel! Não admirava que lhe tivesse sentido as costas cada vez mais frias, mais frias... A sua miseria findára. Alli estava agora, na mesma postura, com as mãos apertadas em torno dos joelhos, a cabeça cahida para baixo, gelado. Todos nos erguemos de salto, com horror. Já a esse tempo o dia penetrára na caverna, n’uma luz mortiça e vaga. De repente, ao meu lado, resoou um grito. Volto a cabeça, vivamente. E vejo--vejo ao fundo da gruta, que não tinha mais de quatro metros, uma fórma, uma figura humana, sentada n’uma pedra, com a cabeça toda descahida sobre o peito, os braços hirtos e pendentes para o chão! Aproximei-me mais, aterrado. E percebi que era tambem um morto. Peor ainda, percebi que era um branco!
 
Os nossos nervos, desorganisados já, não puderam com esta nova e brusca emoção. Tropeçando uns nos outros, largámos desesperadamente a fugir para fóra da caverna. 
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