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CAPITULO V A NOSSA ENTRADA NO DESERTO-11
日期:2024-11-12 10:21  点击:209
--Idiota! Gritei eu desesperado com o Hottentote. Não ha, nunca houve aqui agua!
 
N’aquella aspera, arida immensidade não parecia, com effeito, haver possibilidade, nem sequer verosimilhança d’agua... E quanto tempo de resto poderia durar alli uma «poça salobra», como a que encontrára o velho fidalgo, sem ser chupada pelo sol ardente ou atulhada pelas areias movediças?
 
No emtanto Venvogel, o Hottentote, continuava a farejar, com as ventas erguidas e abertas:
 
--Eu sinto o cheiro d’agua, patrão. Sinto-a no ar!
 
--No ar não duvido. Ha agua que farte nas nuvens! Tambem não duvido que venha a cahir. Mas ha de ser para nos lavar os esqueletos!
 
O barão no emtanto cofiava a barba pensativamente:
 
--E todavia, murmurava elle, por aqui a encontrou o velho portuguez! O sitio é este. Foi aqui, em volta. A meio caminho exacto, na linha direita de norte a sul, da aringa de Sitanda ás Serras. É aqui. Aqui esteve agua!
 
Sim, mas ha trezentos annos! Em tres seculos muita agua brota e sécca! Quem nos afiançava de resto a exactidão do portuguez, esvaído de fome, meio delirado, no começo da sua agonia? Já não era pequena estranheza que elle a tivesse encontrado, n’esta deserta immensidade, justamente quando d’ella lhe dependia a vida!... A não ser que para ella fosse attrahido insensivelmente e naturalmente por algum accidente de terreno, muito saliente e muito visivel de longe--como um bosque, uma collina... Uma collina!
 
E quando eu assim pensava, eis que o barão grita, como echoando o meu pensamento:
 
--No alto da collina! Talvez a agua esteja no alto da collina!
 
--Tolice! Acudiu o capitão encolhendo os hombros. Agua no topo d’uma collina! onde se viu isso?
 
--Procuremos! Disse eu, com um bater de coração que era todo de esperança.
 
Trepámos anciosamente pelo outeiro. Umbopa corria adiante. De repente estaca, com os braços no ar:
 
--Nanzie manzie! (agua aqui!)
 
Pulámos para junto d’elle:--e com effeito, mesmo no topo da collina, n’uma cova redonda como uma taça, lá estava agua, agua escura, agua lôbrega--mas agua! Agua! Agua! Gritavamos de puro gozo. E n’um momento, estirados de barriga no chão, com as faces na poça, sorviamos deliciosamente a grandes e rapidos sorvos aquelle liquido desappetitoso, que tão bem imitava agua. Céos! O que bebemos! E mal findámos de beber, arrancámos o fato, saltámos para o charco, e, sentados n’elle, ficámos horas a embeber-nos de frescura através da pelle--da nossa pobre pelle mais dura e mais sêcca que um pergaminho secular.
 
Quando nos erguemos, refrigerados e saciados, cahimos sobre a carne sêcca. Comemos a fartar. Uma longa cachimbada por cima completou aquella hora de consolação. E o somno que nos tomou até ao meio dia, deitados junto da poça e da sua humidade, foi profundo e bemdito!
 
Todo a quelle dia tardámos junto da agua, bebendo d’ella, mergulhando n’ella, olhando para ella--e dando louvores sem conta ao velho fidalgo que tão exactamente a marcára no mappa. Por fim, tendo enchido d’agua os estomagos e os cantis, continuámos a marcha, mais animados e ageis, ao erguer da lua cheia. Fizemos vinte e cinco milhas n’essa noite. Não tornámos a encontrar agua. Mas seguiamos confiados, com a certeza de a achar, abundante e fresca, nas faldas das serras. Quando o sol se ergueu e desfez as nevoas, avistámos de novo a cordilheira e os dois «Seios de Sabá» (agora afastados de nós apenas vinte milhas) tomando o céo com a sua magestade sublime. Essas vinte milhas cobrimol-as durante a noite. E ao outro alvorecer pisámos emfim as primeiras ladeiras do seio esquerdo de Sabá! 
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