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CAPITULO V A NOSSA ENTRADA NO DESERTO-4
日期:2024-08-23 09:56  点击:271

Aquelle homem evidentemente sabia alguma coisa que não queria revelar. Elle decerto percebeu a minha desconfiança--porque acudiu, espalmando as mãos:

 

--Não te arreceies, Macumazan! Não te arreceies! Não abro covas para que tu cáias dentro. Se chegarmos a atravessar o deserto, eu te contarei o que sei. Mas a Morte está lá com uma lança, á nossa espera. Melhor te fôra, Macumazan, voltar aos teus elephantes... Fallei o que tinha a fallar.

 

E meneando a azagaia á maneira de saudação, desceu o comoro, recolheu ao acampamento--onde d’ahi a instantes o encontrámos limpando uma carabina, attento, calado, como qualquer servo cafre vasio de pensamento e vontade.

 

--Homem extraordinario! Murmurou o barão.

 

--Extraordinario de mais! Não gósto nada d’aquelles mysterios... Mas, emfim, nós estamos mettidos n’uma aventura phantastica, e um Zulú mysterioso de mais ou de menos--não tira nem põe!

 

Na manhã seguinte começámos os preparativos para a marcha. Era impossivel naturalmente levar comnosco, através do deserto, todo o pesado armamento, e as cantinas. Fomos portanto forçados (depois de debandar os carregadores) a confiar tudo a um velho cafre, um atroz sacripante, que possuia alli uma aringa consideravel. Bem penoso me era abandonar as nossas magnificas armas á mercê d’aquelle velho malandro--cujos olhos se fixavam já nos nossos bens com um fulgor de cubiça e rapina. Tomei por isso as minhas precauções.

 

Comecei por carregar as espingardas. Depois declarei ao bandido, n’um tom cavo, que aquelles canos estavam enfeitiçados--e que se elle lhes tocasse «alli» (mostrei o gatilho), os demonios fugiriam de dentro despedindo um raio! Immediatamente (como eu calculára), o Cafre puxou o gatilho a uma carabina «Express». E o raio partiu. Partiu, com tanta felicidade, que matou uma vacca que pastava pacificamente a distancia, á beira d’agua--e atirou o velho de pernas ao ar, com a inesperada força do recúo. O pavor do malandro foi indizivel. Tremia todo, dava pulos em volta da vacca morta (que depois, mais tranquillo e com toda a impudencia, queria que eu lhe pagasse), olhava para o céo, olhava para o chão... Por fim rompeu aos berros:

 

--Tirem esses demonios que estoiram! Ponham-os lá em cima, sobre o colmo!... Ai, que não fica vivo um de nós!

 

Apenas elle serenou, continuei a minha predica. Affirmei-lhe, com olhares esgazeados, que se ao voltarmos, uma só arma d’aquellas faltasse, eu, que possuia as artes dos brancos, o mataria a elle e a toda a sua gente por meio de bruxarias sangrentas: e que se nós morressemos e elle tentasse apoderar-se do que era nosso, eu voltaria em espirito perseguil-o, puxar-lhe de noite pelos pés, tornar-lhe o gado bravo, dessorar-lhe o leito fresco, seccar-lhe a semente na terra,--e fazer a vida na aringa tão dura e terrivel que seus proprios filhos o amaldiçoariam... Emfim, dei-lhe uma idéa razoavel do Inferno, com horrores ineditos. O velho malandro, espavorido, jurou que olharia pelas nossas armas como se fossem os ossos de seu pai! Era um patife infinitamente supersticioso. 
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