Matem-n'o que a arvore continuará a dar maçãs d'ouro; do contrario, o rato continuará na sua obra de destruição e a arvore definhará. Mas deixe-me socegado com sonhos; se me torna a acordar, não tenho outro remedio senão faltar-lhe ao respeito.{110}
A velhota ameigou-o com boas palavras, e continuou acalentando-o, até que o viu de novo ferrado no somno; então, arrancou-lhe o terceiro cabello. O diabo deu um pulo, soltou um grito e ia-se zangando devéras com a mãe, mas esta cortou-lhe os impetos, dizendo:
—Oh, filho, quem é que é superior aos sonhos!
—Que sonho foi esse para assim me despertar! Decerto é muito curioso!
—Sonhei que um barqueiro se lastima bastante em andar de uma banda para outra sem que seja substituido.
—Porque é um asno chapado!—exclamou Satanaz—Ao primeiro passageiro que lhe peça para atravessar a margem, não tem mais do que entregar-lhe os remos e pirar-se!...
Agora a velha, que já tinha arrancado os tres cabellos d'ouro e{111} que tinha na mão a chave dos tres enigmas propostos, deixou em paz o diabo, que dormiu a somno solto até madrugada.
Logo que o demonio saíu dos lares, a velha pegou na formiga, deu de novo figura de gente ao rapaz nascido n'um folle, e disse-lhe:
—Aqui tens os tres cabellos de ouro; quanto ás respostas dadas pelo diabo ás perguntas que formulaste, creio que as ouviste.
—Certamente que as ouvi e não me esquecem.
—E assim alcançaste o que querias—continuou a boa velha.—Agora pódes tornar para d'onde vieste.
O mocinho agradeceu muito o auxilio que a velha lhe havia prestado e saíu do inferno bem contente por haver conseguido os seus fins. Assim que chegou perto do barqueiro, este lembrou-lhe logo o cumprimento da promessa que lhe fizera.{112}
Mas o rapazito, que era bastante sagaz, respondeu: