—Quando vossa magestade quizer!—redarguiram de prompto moleiro e moleira.{99}
Em seguida mandaram pôr a postos o rapaz.
O rei, entretanto, dirigia esta carta á rainha:
«Apenas o rapaz, portador d'esta, ahi chegue, dá-te pressa em mandal-o matar e enterral-o em seguida; o resto será resolvido no meu regresso.»
O mocinho partiu com a carta e chegou pela noite a uma grande matta; por entre a escuridão avistou uma luzinha. Seguiu n'essa direcção e depressa parou perto de uma cabana. Entrou e viu sentada uma velha, sózinha, ao pé de uma lareira. Ao vêr o rapaz ficou tranzida de medo, e gritou:
—D'onde vens e para onde vaes?
—Venho do moinho—respondeu—e vou ao palacio levar uma carta á rainha; como, porêm, me perdi na matta, muito grato me seria passar aqui a noite.{100}
—Infeliz creatura!—redarguiu a velha.—Vieste ter a uma caverna de salteadores, que, se aqui te encontram, são muito capazes de te darem cabo da pelle!
—Venha quem vier, de nada me arreceio; estou bastante fatigado para que possa continuar a jornada.
Dictas estas palavras, sentou-se n'um banco e adormeceu.
D'ahi a pouco appareceram os salteadores que perguntaram irritados quem era aquelle intruso.
—Ora—retorquiu a velha—é um pobre moço que se perdeu na matta e a quem recolhi por dó; foi encarregado de levar uma carta á rainha.