No momento em que a carroça torneava uma sebe, e se ouvia a voz do rapazinho: vá, cavallo! passaram dois individuos desconhecidos que exclamaram estupefactos:
—É celebre! Uma carroça que anda á voz de um carroceiro que não se vê!
—Alguma cousa ha de extraordinario; sigamos o vehiculo para vêr onde pára!
Continuou a carroça no caminho que levava até parar no sitio onde havia arvores caídas. Assim que João-Pequenino avistou o pae, gritou:
—Então, pae, guiei ou não guiei a carroça? Agora põe-me no chão.
O lenhador, segurando com uma das mãos a redea, serviu-se da outra para tirar de dentro da orelha do cavallo o rapazito a quem pôz no chão; o rapazinho sentou-se n'um feto.{77}
Os dois desconhecidos, ao vêrem João-Pequenino, não sabiam que imaginar, de tal maneira ficaram extacticos com o rarissimo phenomeno. Falaram em segredo e resolveram:
—Este exemplar póde trazer-nos uma fortuna, se quizermos expôl-o a troco de alguns cobres em qualquer povoação; não será mau comprál-o.
Em seguida encaminharam-se para o camponez, e propuzeram-lhe:
—Quer vender-nos esse anãosinho sob a condição que cuidaremos muito d'elle?
—Não,—respondeu o interrogado—é meu filho e por dinheiro algum eu me desfaria d'elle.
João-Pequenino, porêm, que percebêra e ouvira bem toda a conversa, trepou pelas pernas do pae á altura do hombro e segredou-lhe:
—Pae, acceite a proposta, que eu em breve estarei de volta.{78}
Ante esse conselho de João-Pequenino, o pae cedeu-o aos homens por uma valiosa moeda de ouro.
—onde queres tu collocál-o?—perguntaram entre si.