No tempo em que Deus andava pelo mundo, estava um pobre lavrador aquecendo-se á lareira emquanto se lastimava á mulher, que perto d'elle fiava, desgostoso por não ser contemplado com filhos.
—Que socego—accrescentou—vae n'esta casa emquanto que em outras então tanto barulho ha causado pela alegria e pelos risos da pequenada!
—Tens razão—appoiou a mulher, suspirando.—Oxalá tivéssemos um só, embora tão pequenino que quasi{74} se não visse. Isso me bastaria para nos alegrar e querer-lhe iamos de todo o coração.
A boa mulher, alguns dias passados, principiou a andar doente, e ao cabo de sete mezes foi mãe d'um menino tão bem formado que se disséra de todo o tempo, mas muito pequenino. Ao vêl-o, a mãe não se conteve que não dissesse:
—É exactamente como nós o haviamos desejado; não deixa, apezar de mais pequeno do que um dedal, de ser o nosso filhinho.
Por via d'isso toda a parentella lhe ficou chamando João-Pequenino. Crearam-n'o tão bem quanto puderam; não cresceu mais, ficando sempre do mesmo tamanho em que nascêra. Era muito vivo, muito esperto; e tinha uns olhitos muito brilhantes; e bem cedo mostrou o tino e actividade sufficientes para levar a bom-effeito qualquer empreza a que se abalançasse.{75}
O camponez, certo dia, apromptava-se para ir cortar madeira á matta visinha e disse para comsigo:
—Bem precisava eu de quem me conduzisse a carroça.
—Pae—gritou João-Pequenino—eu guio a carroça, se quer; não se assuste que chegará a tempo.
O homem desatou a rir:
—Isso é impossivel! Se és tão pequenino, como has de segurar a redea ao cavallo?
—Isso não faz ao caso, pae! Se a mãe vae atrellar o cavallo, eu metto-me na orelha do cavallo e ensino-lhe o caminho a seguir.
—Pois então, experimentemos.